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terça-feira 14 maio 2024
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Telefônica – Viviane M foresti.

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Si non è vero è bene trovato
Telefônica

Lá vou eu de novo, voltando outra vez tempo.
Quem nasceu neste século 21 não tem a mais vaga idéia do que possa ser uma “Telefônica”, algo tão obsoleto quanto o próprio telefone preto com disco e a expressão, hoje em desuso, de “discar para alguém”.
Nos idos dos anos 60, morávamos ao lado da Telefônica de nossa cidade. Uma casa de esquina, com porta para a rua.
Éramos vizinhos de cerca e muitas vezes eu ia passar a tarde com a Ciça, a operadora daquele monte de cabos e fios, que me deslumbrava com sua capacidade de nos conectar com o mundo, com seu “alôou, Sarandi chamando ou alôou Sarandi na escuta”.
Não por nada, mas era a pessoa mais bem informada sobre a vida de toda a comunidade.
Por ela passavam todos os “fonogramas” – mensagens de texto, passadas através do telefone e entregues na casa do destinatário- , felicitações, avisos de morte, cobranças, declarações de amor etc.
Era o WhatsApp ou Messenger da época. Acreditem.
Não havia segredo algum, pois embora ela ouvisse mais que um padre no confessionário, não havia nada que a obrigasse a manter o sigilo.
Tirando os médicos, não conhecia ninguém que tivesse telefone em casa e, mesmo estes, tinham que fazer a chamada através da telefônica, e esperar a ligação ser completada, para poder então falar.
Já os pobres mortais, quando precisavam se comunicar com o mundo, tinham que ir diretamente à telefônica, fazer o pedido de uma ligação e ficar esperando até ser completada, o que poderia levar horas.
Nada tão grave, pois a vida fluía mais devagar e ainda se podia aproveitar para tomar um chimarrão e comer uns grostoli, com as três mulheres da casa e de lambuja ficar a par das novidades.
Quando finalmente chegava a hora, ia-se para uma pequena cabine onde discursava-se aos gritos pois nem sempre se era ouvido e a intimidade era compartilhada com todos, inclusive com os passantes na rua, que matreiramente diminuíam o passo para se inteirar das fofocas.
Tempos longínquos e hoje inimaginável, quando qualquer criança pode fazer uma chamada e a resposta será imediata, graças ao uso dos smartphones.
O mundo mudou, e a perda da privacidade se tornou ainda maior.
Hoje não existe um lugar nesse
planeta onde possamos ficar incomunicáveis, a sós com nossos pensamentos e desfrutar disso.
Viviane M Foresti




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