Arquivo Pessoal / Divulgação
Empresário foi denunciado à direção do partido pelos correligionários que teria tentado aliciar

Pré-candidato a deputado estadual pelo PT, o professor universitário e empresário Rafael Rossetto foi suspenso do partido por sindicância interna depois de ser denunciado por parlamentares da própria da sigla por supostamente oferecer dinheiro e outras vantagens para que eles, que seriam seus adversários no pleito, não concorressem à reeleição.  A mais grave das acusações é a de ter tentado subornar o então presidente da Assembleia Edegar Pretto com R$ 300 mil para que abandonasse o Legislativo e se lançasse ao Palácio Piratini em 2018, o que teria acontecido em uma reunião no gabinete da presidência da Casa em junho de 2017.

O caso está detalhado por escrito em denúncia redigida por todos os parlamentares do PT na Assembleia, assinada pelos líderes da bancada, Stela Farias, e partidário, Tarcísio Zimmermann. O documento, obtido pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI), foi remetido em novembro de 2017 à direção estadual da sigla requerendo providências. A carta diz que, ao procurar lideranças, o pré-candidato fez “propostas surpreendentes e indecorosas de que esses desistissem de suas candidaturas para apoiá-lo em troca de favores e recursos financeiros”.

Para o deputado estadual Altemir Tortelli, outro que denuncia ter recebido ofertas de vantagens para desistir da reeleição, Rafael teria acenado com cargos no seu eventual futuro gabinete e reciprocidade de apoio no pleito de 2022. Os assediados recusaram as ofertas. Jefferson Fernandes e Luiz Fernando Mainardi também entregaram acusações por escrito.

Segundo os relatos, Rafael — que não tem parentesco com o ex-ministro e pré-candidato ao Palácio Piratini Miguel Rossetto —, oferece emprego a cabos eleitorais e dirigentes partidários no Centro de Ensino Superior Riograndense (Cesurg), rede de faculdades no Interior da qual é proprietário e diretor-presidente licenciado. Em troca, os petistas precisariam apoiá-lo.

Na sindicância do partido, uma liderança do PT de Soledade relatou como ocorreria a suposta prática de cooptação. “Na verdade, não se tratava de um contrato de trabalho em uma universidade com perfil mais à esquerda, como pensei, mas sim de uma tentativa de cooptação (compra de apoio) para a candidatura dele, Rafael, a deputado estadual. Então, resolvi sair da instituição por motivos óbvios”, denunciou um petista que foi professor por um semestre no Cesurg, em trecho reproduzido nas atas do PT.

O relatório final da sindicância foi analisado pela direção executiva do partido em abril, e Rafael foi suspenso provisoriamente por 60 dias. Pouco mais de um mês depois, o diretório estadual do PT se reuniu para apreciar um recurso e decidiu manter a suspensão, que se esgotou em 2 de junho. Agora, a comissão de ética, segunda etapa de apuração interna, está nos últimos atos da investigação, que poderá concluir por arquivamento da denúncia, recomendação de impedimento de registro da candidatura ou, no cenário mais drástico, expulsão do partido, entre outras medidas.

Abandono do cargo de vice-prefeito em SC

Embora seja natural de Porto Alegre, a trajetória de Rafael Rossetto é recente no Rio Grande do Sul. A partir de 2015, ele passou a atuar em cidades como Sarandi e Marau, alugando e comprando antigos seminários da Igreja Católica para os transformar no Cesurg. Atualmente, está em cinco municípios — chegou a Santo Ângelo, Guaporé e Rio Pardo. Antes disso, sua atuação política se concentrava em São Carlos, no oeste de Santa Catarina, onde vivia desde a infância. Em 2004, concorreu a vereador, mas não se elegeu. Oito anos depois, após prévia, foi indicado candidato do PT a vice-prefeito em chapa com o MDB.

A aliança saiu da campanha triunfante. Mas, em maio de 2015, Rafael rompeu com o prefeito e transferiu o seu título eleitoral para o Rio Grande do Sul. Mesmo afastado de São Carlos, continuou recebendo o salário de pouco mais de R$ 7 mil. O pagamento foi suspenso em janeiro de 2016, após lei municipal passar a exigir carga horária para vice-prefeito, diz o ex-prefeito Cleomar Kuhn (MDB).

Em Santa Catarina, Rafael responde a processos judiciais em tramitação: dois por dívidas em universidades em que estudou e um por não quitar débito de uma compra de terra. Na esfera administrativa, foi condenado no Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina por ter recebido verba pública de R$ 3 mil por intermédio de uma ONG e, posteriormente, não ter feito a prestação de contas. No Rio Grande do Sul, é cobrado judicialmente por supostamente não ter quitado uma parcela da compra de um estabelecimento de ensino.

No pleito de 2012, Rafael declarou à Justiça Eleitoral que seus bens se resumiam a R$ 21.759 em dinheiro em espécie. Apesar disso, ao chegar ao Estado passou a fundar faculdades. Na denúncia ao partido, os deputados petistas questionam a origem dos recursos investidos pelo correligionário.

Contraponto

O que disse Rafael Rossetto em depoimento à sindicância do PT

Sobre a suposta oferta ao deputado Edegar Pretto: “Em relação ao denunciado, negou qualquer aporte financeiro. Teria dito apenas que o apoiaria caso ocorresse disputa interna ou o deputado se lançasse candidato a governador. Não houve nenhuma menção de valores. Confirma a reunião, dia e hora, e diz que tem testemunha que estava presente na visita e que não houve nenhuma oferta financeira.”

Sobre a suposta oferta de cargos para Altemir Tortelli: “Confirma o encontro, que a conversa girou em torno de candidaturas, mas que a proposta foi iniciativa do deputado Tortelli. Esse teria pedido que Rafael Rossetto adiasse sua candidatura para 2022 e que o deputado ainda propôs que garantiria uma vaga na chapa majoritária do senador (Paulo) Paim, como suplente.”

Sobre as supostas cooptações de cabos eleitorais e dirigentes com a oferta de emprego no Cesurg: “Afirma que dá preferência aos companheiros e companheiras do PT e da esquerda para trabalharem no projeto Cesurg. Não vê nenhum problema nisso.”

Fonte gauchazh/clicRBS