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domingo 5 maio 2024
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O onibus que parava demais – Claudio Vogt

O ÔNIBUS QUE PARAVA DEMAIS

Nas férias de julho de 1970, numa noite muito fria, eu fiz uma
viagem de Porto Alegre a Sarandi, com a empresa Águia Branca.
Naquela época, era comum os Sarandienses dizerem que viajavam
“com o Sabadin”.

Eu não conhecia os motoristas.

Naquela ocasião,
conheci o novo Auxiliar do Motorista. Era um gordinho exibido. A
maior preocupação dele era mostrar que nasceu ou morava na
Capital.

Ele arrumava qualquer motivo para dizer: “Dez minutos di
parada!”. Talvez por vaidade ou para arrumar uma namorada… E,
assim, fomos parando em todas as localidades. O ônibus fazia uma
baita volta por Encantado, Arroio do Meio, Arvorezinha, Ilópolis etc…
Paramos até para trocar um pneu!
É óbvio que os passageiros reclamavam: “CHEGA DE PARADA!”
“TOCA DIRETO!” “ESTAMOS COM PRESSA!”. Do meu lado, junto à
janela, viajava uma Freira, muito atenciosa. Ela comia uma maçã.
Comeu várias. Ela me contou que conhecia a Irmã Verônica, minha
primeira Professora, mas que não sabia aonde ela estava. Que pena!
Seria emocionante revê-la…
Havia, no ônibus, na parte posterior, estudantes Sarandienses.
Eles abriam as janelas e fingiam que estavam dormindo. O ônibus

virava uma geladeira! As reclamações voltavam: “FECHEM AS
JANELAS!” “ESTÁ MUITO FRIO!”. Mas não havia a menor condição de
as janelas ficarem fechadas. Eles devem ter almoçado lá no
Zancanella. Este é bom socialmente. Deve ter servido uma refeição
bastante nutritiva… feijão com cebola e ovos! A Freira disse que eles
comeram alguma coisa estragada.
O gordinho resolveu tomar uma providência: “Atenção,
senhores passageiros, dez minutos di parada!” Na verdade, em cada
parada, bastavam poucos minutos, apenas. O ônibus deveria parar
também em menos locais. Perto de Soledade, o ônibus parou na
frente de uma loja que tinha dançarinas dentro… Eu disse que
deveriam trocar outro pneu. A Irmã exclamou: “Acho que vão trocar
o óleo!” A viagem estava com várias horas de atraso. Deram a culpa
para o gordinho exibido. Em Carazinho, na garagem, trocamos de
ônibus. Lá se foi mais meia hora! Finalmente, o ônibus novo, ou
quase novo, seguiu a viagem. Um detalhe chamou a atenção dos
passageiros: o gordinho desapareceu.

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