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segunda-feira 6 maio 2024
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Nico e a crista de galo – Viviane M Foresti

Nico e a crista de galo

Em 1964, quando nos mudamos para a ” casa nova” o Nico tinha apenas 3 anos .
A casa era muito grande e de certo modo assustadora para nós, as crianças.

Com dois pisos , um hall de entrada com pé direito altíssimo e uma escada em curva que levava ao segundo andar, onde ficavam os quartos.
No início, a tal escada era o terror das crianças, subíamos sempre correndo com medo que alguma “alma penada” nos seguisse.

Verdade seja dita que tem gente que não superou o medo até hoje!
Se não bastasse a novidade da casa nova, o pai e a mãe iam ao cinema na quarta-feira e no sábado, quando então ficávamos com a empregada.

Só que ela dormia no andar de baixo, nos fundos e o Nico que era sonâmbulo, acordava , se via sozinho , descia as escadas e ia bater na casa da Nonna que morava ao lado, procurando segurança.
Então as tentativas de tirar as fraldas noturnas encontraram sérios obstáculos e se prolongaram muito além do tempo desejado, de modo que foi recomendado um santo remédio caseiro, de eficácia duvidosa como todos, mas sem efeitos colaterais danosos, se não considerarmos a gozação da criançada!
A voz do povo dizia que criança que mijava na cama devia comer a crista do galo pois era tiro e queda para resolver o problema, de modo que , toda a vez que se matava um galo velho a crista era reservada para ele, um petisco exclusivo para os ” mijões”.
Para nós, as “tosetas” do Armeri só restava brigar pelo cérebro, pelos ovinhos encontrados no interior da galinha , pelos pés, pelo fígado e pela moela , que também eram disputadíssimos.
Revendo o uso das “ simpatias” descobri o modo correto de comer a tal da crista.

Diz a sabedoria popular que :“criança que faz xixi na cama fica curada se a mãe cozinhar uma crista de galo virgem com sal colocar num prato branco e mandar a criança comer embaixo da cama, porém, a criança nunca poderá saber o que está comendo”.
Consequentemente, descobri porque não funcionava!
Comer crista de galo velho e não virgem, ao modo italiano, em um brodo ou em um molho de massa só tornava o Nico um privilegiado e motivo de inveja das pequenas “irmãs Cajaranas” e assim a simpatia perdia seu efeito, de modo que ele continuou fazendo xixi na cama por uns bons anos até a natureza seguir seu curso e ele superar seus medos.

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Viviane M Foresti




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