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sexta-feira 22 novembro 2024
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Polícia Federal descobre sofisticado esquema de lavagem de dinheiro da facção Os Manos

Operação Antracnos apurou ainda que a organização é comandada de modo horizontal

Criação de animais era uma das formas de lavagem do dinheiro

Foto: PF / Divulgação / CP

Criação de animais era uma das formas de lavagem do dinheiro

A investigação da operação Antracnose da Polícia Federal sobre o patrimônio da facção criminosa Os Manos apurou um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro oriundo do narcotráfico e a condução dos negócios ilícitos com uma estrutura horizontal de comando. O trabalho policial foi coordenado pela Delegacia de Repressão às Drogas da PF no Rio Grande do Sul, sob comando do delegado Roger Soares Cardoso. “Essa investigação foi uma das mais complexas feitas pela delegacia e permitiu uma verdadeira radiografia do crime, pois mapeamos esta organização durante um ano”, explicou. “Pode-se afirmar que é a maior organização criminosa que atua no RS”, avaliou.

A ação ostensiva foi deflagrada na manhã desta quinta-feira com o cumprimento de 295 ordens judiciais, incluindo 35 mandados de prisão preventiva e 39 mandados de busca e apreensão, em Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha, Portão, São Sebastião do Caí, Nova Hartz, Tramandaí e Tapes, além das cidades paranaenses de São Miguel do Iguaçu e Medianeira. Houve 33 presos e apreendidos 181 quilos de cocaína, 56 veículos e R$ 99 mil em dinheiro e R$ 60 mil em cheques.

A operação resultou ainda no sequestro judicial de 92 veículos e 18 imóveis, incluindo mansões e até uma fazenda de 140 hectares em São José do Norte, além do bloqueio judicial de contas bancárias de pelo menos 63 pessoas jurídicas e de 48 pessoas físicas. Em um haras em Tapes, os agentes encontraram quase 203 animais, entre bois, ovelhas e cavalos de raça.

Cerca de 200 policiais federais foram mobilizados. A Brigada Militar, através de mais de 100 policiais militares do 1º Batalhão de Polícia de Choque, Batalhão de Operações Policiais Especiais e do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Rio dos Sinos, prestou apoio na ação.

Investigação

O delegado Roger Soares Cardoso revelou que a investigação atingiu “números estratosféricos de drogas e valores movimentados”. De acordo com ele, a facção fez circular em torno de R$ 140 milhões em um ano. No mesmo período, a organização criminosa trouxe cerca de quatro toneladas de cocaína pura vinda do Paraguai  para a região do Vale do Rio dos Sinos. Os carregamentos semanais variavam entre 100 e 400 quilos. Durante o trabalho investigativo, os policiais federais apreenderam 19 pistolas, seis fuzis e duas espingardas, cerca de R$ 2,6 milhões em dinheiro e mais de uma tonelada de entorpecentes.

Sobre o esquema de lavagem de dinheiro, o delegado Roger Soares Cardoso disse que aproximadamente 30 empresas lícitas foram criadas pela facção em diversos ramos de atividade econômica, como revenda ou locação de veículos, oficinas mecânicas, calçados e mercados, entre outros estabelecimentos comerciais. Até uma empresa de campeonato de videogame online foi montada.

“Chama muito a atenção este complexo de lavagem de dinheiro para branquear os capitais provenientes do tráfico de drogas. Estas empresas recebem aporte financeiro da facção para transformar em dinheiro lícito”, afirmou. No caso do haras em Tapes, a investigação da PF apurou que a lavagem de dinheiro ocorria através, por exemplo, de leilões dos animais com valores superiores e da reprodução fictícia de gado, com declaração de exemplares acima do que realmente existia.

Já em relação à estrutura de comando da facção, o delegado Roger Soares Cardoso observou que a organização criminosa possui um modus operandi parecido com a máfia italiana. Conforme ele, a direção é horizontal e não vertical. “Existem diversas células com várias lideranças que tomam as decisões em conjunto”, resumiu.

Cavalos, ovelhas e bovinos foram encontrados em um haras, em Tapes

Foto: Polícia Federal / Divulgação

Integração

O superintendente regional da PF no Rio Grande do Sul, delegado José Antonio Dornelles de Oliveira, considerou a operação Antracnose como uma das maiores da instituição no Estado. Ele enfatizou que o principal objetivo foi a descapitalização da facção para que tenha “um baque e não consiga operar por algum tempo”.

O delegado José Antonio Dornelles de Oliveira destacou ainda a integração com outros órgãos ao longo da investigação, citando Brigada Militar, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil, Superintendência dos Serviços Penitenciários, Ministério Público Federal, Ministério Público/RS, Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado e Receita Federal.

Ele lembrou também a ajuda da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai que prendeu uma das maiores lideranças da facção em agosto deste ano. Trata-se do criminoso conhecido como Nenê, de 37 anos, que estava foragido e encontra-se agora recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).




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