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sexta-feira 22 novembro 2024
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Gerontóloga analisa impactos da solidão no isolamento social

Foto: Alina Souza

Interação de idosos com a família é essencial, analisa Ony Teresinha da Silva

A advogada aposentada, com especialização em Gerontologia Social, Ony Teresinha Pereira da Silva, avalia que a família tem papel importante para diminuir o impacto da depressão nesse momento de isolamento social, imposto pela pandemia de Covid-19. Ela, que também atuou no Conselho Municipal Idoso, em Porto Alegre, do Conselho do Idoso Porto Alegre e atualmente é membro atuante do Coletivo da Alma, igualmente acredita que a interação do idoso com seus familiares, mesmo que virtualmente, dá a ele o suporte necessário para “sobreviver” durante o período de isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus.

Como enfrentar a solidão, de maneira saudável, neste período de isolamento social?
Para enfrentar a solidão, de maneira saudável, nesse período de isolamento, na minha mente brota muitas reflexões, e uma delas é a de que não podemos  esquecer de considerar o estilo de vida que cada idoso vinha tendo antes da pandemia, para que não se cometa o desrespeito a individualidade de cada um. Penso que temos que exercitar o amor-próprio, dispor de si, exercitar fisicamente respeitando-se as limitações físicas e a limitação de espaço. Pode ser no quarto, na sala e na área de serviço. Evitar o sedentarismo é fundamental. Outra dica é coletar sabedoria, através de muitas formas e meios de comunicação, seja escutando rádio, assistindo a um programa de televisão, leitura de livros e navegando pelas redes sociais. Fazer o resgaste pessoal e a redescoberta de si mesmo, saber das nossas potencialidades e interesses. Procurar deixar para trás a dependência e passividade diante dos outros. É preciso sair do círculo da preocupação para entrar no círculo da realização de si mesmo. Uma boa dica é escutar a música Tocando em Frente, de Almir Sater, que diz: “É preciso amor para poder pulsar…É preciso paz para poder sorrir…”. Realmente precisamos ter paciência, paz interior, sorrir e a esperança viva de que dias melhores virão.

Qual a diferença entre solidão e solitude?
Para compreender a solidão, assim como a felicidade, é necessário estabelecer alguns parâmetros. Vários autores tentam definir o conceito de solidão. O que se constata é um conceito vago, influenciado por determinantes pessoais, sociais e situacionais. A solidão para a pessoa idosa estar associada à redução de sua participação na comunidade em que vive, à diminuição de saúde, que priva as pessoas de muitos papéis, incluindo a ruptura com a atividade laborativa e a falta de novos projetos de vida pós aposentadoria. Às vezes, a solidão está associada ao sentimento de abandono, de melancolia, isolamento, todos associados à ausência de conexão eficiente, ligando um ser humano a outro. Já a solitude é a sensação de prazer justamente em razão da desconexão. As pessoas que vivem em solitude por opção, por escolha própria ou até como reação ao abandono ou à insuficiência dos laços sociais, encara a condição com positividade e otimismo, encontram assim prazer em sua própria companhia.

Quais os malefícios da solidão a curto e longo prazo?
Os malefícios da solidão podem ser desencadeados pelo problema do isolamento físico e psicológico associado, às vezes, à sensação do medo de ser julgado por outras pessoas, à frustação, à insatisfação com os outros e com as relações amorosas, profissionais ou fraternas, à falta de  encontrar companhias e ideias, ou até valores semelhantes aos nossos. A solidão pode se manifestar inclusive por não conseguirmos, por exemplo,  pertencer a alguma rede social. Nessa situação, a necessidade de identificação social é importantíssima porque não podemos nos sentir sozinhos no mundo. Se isso acontece, estaremos diante de um isolamento extremamente prejudicial. Alguns idosos sentem vergonha de suas dificuldades emocionais e se isolam, para que suas dificuldades fiquem em segredo. A curto prazo, a solidão pode ser saúdavel, inevitável e necessária para que possamos realizarmos reflexões sobre a vida e construir novas ressignificações, sem que esse momento seja triste. Como o filósofo Friedrich Nietzsche menciona em suas obras, o isolamento deve ser encarado como restaurador. É um momento que temos para sermos quem somos na essência. A longo prazo, a solidão pode trazer efeitos colaterais desastrosos e até distúrbios mentais, além de potencializar nossos níveis de hormônios, como o cortisol, causando estresse e até afetar o nosso sistema imunológico, inclusive causando alterações nos níveis de açúcar no sangue, causando, em alguns, insônia e distúrbios psíquicos, como ansiedade, além de desenvolver a depressão.

Qual o lado bom de estar sozinho?
Tem muito a ver como o idoso enxerga a velhice. Se entender que a vida tem seu curso natural e que cada etapa da vida deve ser enfrentada com leveza, estiver aberto a mudanças e disposto a ser independente emocionalmente, aproveitará esse momento para cuidar de si, planejar novos projetos, fazer aquilo que ama, mesmo que pequenas tarefas. O lado bom de estar sozinho é a oportunidade de exercitar a coragem e a auto-confiança.

Como lidar com a solidão e sentir-se bem, mesmo sem outras pessoas por perto durante a pandemia?
A solidão se torna problema quando não conseguimos ficar bem sozinhos, quando precisamos da presença de alguém por perto para nos trazer a sensação de bem-estar, quando ficamos dependendo emocionalmente dos outros. Isso acontece por conta da baixa auto-estima e da falta de confiança e da capacidade de construir relações de amizade e de manter laços fraternos. Pode ser detectado em alguns casos, quando o idoso é excessivamente introspectivo e tem dificuldade de construir relações.

Existe um momento exato onde a solidão se torna um problema? Como detectá-lo?
O problema entra em cena quando nada preenche o vazio que corrói por dentro. O medo da solidão é o pior medo. Só tem medo da solidão quem não sabe usufruir do silêncio e da quietude em harmonia.

Protetores registraram incremento de adoções de animais de estimação durante a pandemia. Cães e gatos tornam as pessoas menos solitárias?
Estudos apontam que há uma grande influência dos animais de estimação na vida e na auto-estima das pessoas. Os animais são capazes de transmitir sensação de bem-estar por serem carinhosos e até cuidadores puros das pessoas que convivem com eles. A convivência com os pets cura a solidão. Os bichinhos são uma excelente companhia, inclusive porque não julgam, não censuram e não criticam. Proporcionam  uma sensação de afeto capaz de amenizar o sofrimento do isolamento, além de possibilitarem a restauração do amor próprio e a redução do estresse. A convivência com eles proporciona motivação e responsabilidade, traz alegria e, por consequência, felicidade.

O que fazer para não sofrer durante o isolamento?
O idoso precisa acreditar em si próprio, redescobrir sua identidade e assumir-se com as alterações inerentes a sua faixa etária. Sentindo-se aceito, amado, compreendidoa em suas limitações e anseios, terá maior motivação para superar o isolamento e não sofrer durante a pandemia.

De que maneira os idosos devem agir para tornar esses momentos de isolamento menos dolorosos?
A verdadeira compreensão humana se dá no amor, no respeito, no cuidado e na promoção de vida. A compreensão pode nos levar a relações afetuosas, amigáveis e fraternas. Do contrário, seremos egoístas, negativos e até mesquinhos. A solidariedade, a justiça e a partilha geram fraternidade e bem viver. É preciso termos uma compreensão que nos leve a alternativas emocionantes e gratificantes e à realização de atividades sadias que causem alegrias interior. Feliz de quem atravessa a vida inteira, tendo mil razões para viver.

O abandono e o isolamento estão entre os riscos mais comuns para os idosos? Afinal, ninguém consegue viver somente de recordação.
O abandono e o isolamento estão entre os riscos mais comuns entre os idosos. Ninguém consegue viver de recordação. Para tanto, é necessário manter a espiritualidade ativa e aproveitar essa situação para reavaliar as ações e atividades, aumentando a rede de contatos e mantendo-os ativos. Somente dessa forma será possível passar dias mais alegres e otimistas. Agindo dessa forma, quando passar a pandemia, estaremos mais fortalecidos para enfrentar a vida.

O isolamento pode levar à depressão? Como evitar que isso ocorra?
A depressão é uma doença que não escolhe idade e tem como principal sintoma a perda da energia para realizar as atividades do cotidiano. Os idosos estão mais vuneráveis à doença porque, ao envelhecer, nosso cerébro começa a se degenerar com perdas de neurônios que auxiliam na produção de hormônios responsáveis pelo bem-estar.

Correio do Povo

Luciamen Winck



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