Especialista da Instituição ressaltou que “não há razão para pânico”
Segundo Rivaldo, os casos ocorridos até agora em diversos países são em sua maioria leves ou moderados. “Há inclusive casos assintomáticos, em que a pessoa, embora tenha sido infectada, não desenvolve nenhuma manifestação clínica. A ampla maioria dos casos são leves e moderados – talvez uns 80%, 85%, até 90%. E é pequena a parcela de infecções com manifestações clínicas mais fortes.”
O Covid-19, como é chamada a doença causada pelo novo coronavírus, começou a se disseminar na China no final de dezembro e em mais 49 países já foram registrados casos. Em alguns deles, como a Itália e a Coreia do Sul, o surto avançou rapidamente nos últimos dias. Até o último dia 28, a China havia registrado 78.959 casos, com taxa de mortalidade de aproximadamente 3,5%. No resto do mundo, eram 4.351 ocorrências, das quais em cerca de 1,5%, os pacientes morreram. Naquele dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou para “muito alto” o risco em nível globa. No Brasil, havia 182 casos considerados suspeitos e um caso confirmado em São Paulo: um homem de 61 anos que esteve na Itália.
Os primeiros sintomas da doença podem levar até 14 dias para aparecer. “O mais comum é que, em torno de uma semana a partir da infecção, a pessoa desenvolva a enfermidade. E, uma vez desenvolvendo as manifestações clínicas, há um período médio de uma semana a 10 dias de transmissão. Há, no entanto, algumas observações sendo feitas por autoridades sanitárias da China de que, aparentemente, algumas pessoas estariam provocando a transmissão do vírus um pouco antes de se manifestarem os primeiros sintomas”, destaca o médico.
Com sede no Rio de Janeiro, a Fiocruz é uma das instituições habilitadas a fazer os testes laboratoriais capazes de detectar a presença do vírus. Os exames são realizados a partir de amostras de material clínico coletado das narinas ou da faringe dos pacientes. Os resultados saem após um período que varia entre 24 e 72 horas.
O Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, em Belém, também estão preparados para as análises. Ambos são vinculados ao Ministério de Saúde. A tendência é que essa rede de diagnóstico aumente. Em Goiânia, testes já são realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), administrado pelo governo estadual. O Lacen foi capacitado levando em conta a chegada ao estado de brasileiros que foram resgatados em Wuhan, na China. Os repatriados ficaram em quarentena na Base Aérea de Anápolis, em Goiás.
Segundo Rivaldo, o Brasil evoluiu nos últimos 20 anos no enfrentamento de emergências de saúde pública a partir de experiências concretas. Ele cita o surto global de coronavírus, que ficou conhecido como síndrome respiratória aguda grave (Sars) em 2002, a ameaça do ebola em 2014, que acabou não alcançando o Brasil, e a pandemia da gripe H1N1 que se expandiu para o mundo a partir do México. A esses episódios, soma-se o combate a enfermidades como a dengue, a zika e a chikungunya, além das emergências sanitárias decorrentes de outras causas como os rompimentos de barragens de mineração nos municípios mineiros de Mariana, no ano de 2015, e Brumadinho, no ano passado.
“O SUS, nosso Sistema Único de Saúde, aprendeu muito com tudo isso, e a rede de saúde complementar também cresceu nesse período. Isso fez com que pudéssemos antever algumas dificuldades e preparar estruturas para enfrentar o novo surto mundial de coronavírus com uma rapidez infinitamente maior do que em 2009, diante da pandemia de H1N1. Eu diria que, neste momento, o Brasil está mais preparado para fazer a detecção da doença. Evidentemente, isso vai depender da magnitude da transmissão. Lembrando que em algumas localidade do país, sobretudo em regiões metropolitanas, existem dificuldades na rede assistencial, que são de conhecimento público”, avalia o infectologista.
Rivaldo destaca um lado positivo, que é o aprendizado das últimas décadas, mas lembra um aspecto negativo, que foi a desestruturação, em algumas localidades, da rede que estava estabelecida. “Tivemos uma redução da cobertura da assistência pela Estratégia de Saúde da Família, que é o primeiro nível de atenção no SUS. Então, é preciso planejamento, considerando que o coronavírus pode ser uma demanda adicional ao que já enfrentávamos”, acrescenta o médico, ressaltando que deve ser mantida a atenção às demais enfermidades
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Agência Brasil/Correio do Povo