Mapeamento feito pela Guarda Civil Metropolitana localizou cerca de 340 pessoas espalhadas pela área
Mapeamento feito pela Guarda Civil Metropolitana localizou cerca de 340 pessoas espalhadas pela área | Foto: Miguel Schincariol / AFP / CP
Como decorrência da operação policial realizada no último domingo na chamada Cracolândia, existem atualmente 22 pontos de concentração de usuários de crack na Luz e bairros próximos, na região central da capital paulista, de acordo com a prefeitura de São Paulo. Segundo afirmou hoje o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, o mapeamento feito pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) localizou cerca de 340 pessoas espalhadas pela área próxima de onde estava a Cracolândia e em pontos mais distantes, como na Santa Cecília e Santa Ifigênia.
Na operação do domingo, a Polícia Civil realizou prisões e apreensões no chamado fluxo, quarteirões ocupados por barracas improvisadas e usuários. Os grupos de pessoas agora perambulam pelas ruas, sendo frequentemente reprimidos pela Polícia Militar ou pela GCM. Um dos maiores locais de concentração é a Praça Princesa Isabel, a menos de 500 metros do local onde foi realizada a ação policial.
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As mudanças na dinâmica da Cracolândia não são, no entanto, um problema, na opinião de Pesaro. “Na medida que ela se dispersa [concentração de usuários] você acaba tendo maior facilidade na abordagem e maior dificuldade para o tráfico”, afirmou após reunião para definir as medidas do Programa Redenção, iniciativa municipal que pretende substituir o Programa De Braços Abertos, da gestão anterior.
As mudanças trouxeram novas necessidades às equipes de assistência social e de saúde que fazem abordagens aos usuários. “A ação ia ser feita unicamente na Cracolândia, naquela situação geográfica, e hoje ela feita na cidade inteira. Inclusive, nós colocamos veículos à disposição das nossas equipes de abordagem para que eles possam ir às regiões de concentração”, ressaltou o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara.
O secretário municipal de Governo, Julio Semeghini, admitiu, entretanto, que a ação, coordenada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública, aconteceu antes que o Redenção e a rede municipal estivessem prontos para atender aos usuários. “Ela [a ação policial] nos pegou em fase de preparação das nossas ações. Mas, agora, na prática, ela está ajudando”, disse.
Imóveis e demolições Ante do quadro atual, o prefeito João Doria, que no dia da operação policial anunciou o fim da Cracolândia, se justificou sobre os resultados das ações dos últimos dias. “Nós nunca falamos que os dependentes deixariam de existir. A Cracolândia, fisicamente, são prédios. São edificações que são utilizadas por uma facção criminosa na capital de São Paulo para a distribuição de entorpecentes”, destacou.
A prefeitura lacrou quase todos os imóveis residenciais e comerciais de dois quarteirões onde ficava o fluxo. Também foram feitas algumas demolições. Durante a derrubada de um desses prédios, três pessoas ficaram feridas. De acordo com o secretário Julio Semeghini, houve um erro e a derrubada acabou sendo iniciada antes de que a edificação fosse esvaziada.
O caso foi citado em uma liminar emitida ontem pela 3ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo que proibiu a administração municipal de continuar as remoções e demolições antes de cadastrar os moradores e garantir atendimento de saúde e habitação. A prefeitura informou que vai cumprir as exigências.
Internações compulsórias Sobre o pedido da prefeitura à Justiça para fazer internações compulsórias, o secretário de Saúde, Wilson Pollara, disse que não há a intenção de usar a medida de forma indiscriminada. A intenção, segundo ele, é facilitar o trâmite legal. Para que uma pessoa seja levada para tratamento psiquiátrico sem autorização da família, é necessário uma decisão judicial, além de um parecer médico. “Nós continuamos com a análise médica e psiquiátrica caso a caso. Nós estamos solicitando que não exista mais uma análise judicial caso a caso”, disse.
O secretário estadual Floriano Pesaro discordou da visão da prefeitura sobre o tema. “Nós não achamos necessário [o pedido à Justiça para internações compulsórias]. A legislação já prevê a questão da internação compulsória ou voluntária. Nós já temos legislação para isso e sabemos qual é o caminho”, destacou.
Correio do Povo