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sábado 20 abril 2024
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Em novo dia de tensão, dólar fecha em alta de 1,72%, a R$ 5,51

Com agitação sobre juros nos EUA, Ibovespa terminou em queda de 2,95%

Ibovespa encerrou o dia aos 112.256,36 pontos

Ibovespa encerrou o dia aos 112.256,36 pontos 

O câmbio teve novo dia de tensão, lembrando o pregão da última segunda-feira. A diferença é que naquele dia a moeda norte-americana subiu influenciada pela ingerência do governo na Petrobras, enquanto hoje a valorização foi basicamente reflexo do exterior muito ruim. A moeda dos Estados Unidos subiu forte nos emergentes, e o real nem foi a pior divisa hoje, por conta da elevação da taxa de retorno (yields) dos títulos do Tesouro americano, que bateu em 1,5%, o maior valor em um ano, diante da perspectiva de aceleração de crescimento da economia americana e da volta da inflação. O Banco Central fez duas intervenções, vendendo US$ 1,5 bilhão no mercado à vista.

 

No fechamento, o dólar comercial à vista encerrou em alta de 1,72%, a R$ 5,5140, nível mais alto desde 5 de novembro (R$ 5,54). No mercado futuro, o dólar para março, que vence amanhã, subiu 2,39%, a R$ 5,5320.

O BC fez dois leilões pela tarde, oferecendo dólar à vista. No primeiro vendeu US$ 920 milhões e no segundo, US$ 615 milhões. Alguns participantes do mercado criticaram a ação em dia em que o exterior estava muito ruim. O ex-tesoureiro e sócio da Armor Capital, Alfredo Menezes, comentou que atuação ocorreu com várias moedas piores que o real e sem indicadores técnicos do mercado local muito pressionados. “Está muito claro que o BC está mais pró-ativo no câmbio”, escreveu no Twitter. Menezes especula algumas razões, que podem incluir pressão política, preocupação com inflação e que o dólar neste nível interessa ao BC vender reservas para reduzir a dívida bruta.

“Hoje o movimento foi totalmente externo, real esteve até melhor que vários pares, com movimentos muito fortes dos Treasuries levando a ajuste no câmbio pelo mundo”, avalia um diretor de tesouraria. “Notícias locais não fizeram preço no dia”, ressalta, lembrando que o noticiário local segue preocupante, sobretudo com possibilidade de desidratação na PEC Emergencial, para recriar o auxílio emergencial sem corte de gastos. Nesta tarde, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MDB-MG), confirmou que a votação do texto, prevista para hoje, foi adiada para a próxima quarta-feira.

A elevação dos yields trouxe de volta a preocupação da volta do episódio de 2013 conhecido como “Taper Tantrum”, quando houve forte estresse no mercado com o temor de que o Federal Reserve fosse reduzir os estímulos extraordinários. Por isso, as bolsas caíram forte hoje em Nova Iorque e o dólar disparou em alguns emergentes, subindo 3% na África do Sul, 2,2% no Chile e na Turquia, e 2% no México.

O chefe global de mercados do ING Group, Chris Turner, ressalta em áudio que os emergentes foram os mais penalizados em 2013, especialmente os na época chamados “cinco frágeis”, por terem desequilíbrios em conta corrente e/ou fiscais: Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia. Agora, estão no geral melhores que naquele ano, mas seguem no radar.

Ibovespa

A recuperação ensaiada pelo Ibovespa nas duas sessões anteriores foi interrompida, nesta quinta-feira, véspera de encerramento do mês, em dia no qual a progressão dos rendimentos dos Treasuries adicionou pressão sobre as moedas de emergentes, contribuindo com a incerteza fiscal doméstica para levar o real a R$ 5,5382 na máxima, em dia de duas atuações do BC no câmbio – às 15h37, foi realizado o segundo leilão, no mercado à vista, o que não impediu que a moeda americana fechasse além do limiar de R$ 5,50, a R$ 5,5140 (+1,72%). Assim, o índice da B3 encerrou em queda de 2,95%, aos 112.256,36 pontos, entre mínima de 111.764,30 e máxima de 116.506,22 pontos, pela manhã. O giro foi de R$ 45,5 bilhões e, faltando apenas a sessão de amanhã para o encerramento de fevereiro, o Ibovespa volta a acumular perda no mês, de 2,44%, cedendo 5,21% na semana – em 2021, recua 5,68% até esta quinta-feira.

“O Ibovespa devolveu os ganhos da manhã, acompanhando movimento de Nova Iorque, que ampliou queda, por conta do aumento dos rendimentos dos títulos americanos, que continua no radar do mercado. O dólar foi além dos R$ 5,50, e mesmo a atuação do BC, à tarde, foi insuficiente para conter este movimento de alta, que reflete também o receio do mercado com relação à questão fiscal. A votação da PEC Emergencial deve ser adiada para a próxima semana, e com provável fatiamento”, observa Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos.

À tarde, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), confirmou que a votação da PEC, prevista para hoje, foi adiada para a próxima quarta-feira. “É o tempo mais curto para amadurecer o debate”, disse. Na Câmara, por sua vez, a urgência assegurada à chamada “PEC da Impunidade”, que limita as situações em que parlamentares podem ser presos ou afastados do mandato, não contribui para firmar a primeira impressão, de uma inflexão em direção a reformas sob Arthur Lira (PP-AL).

Em Nova Iorque, as perdas nos principais índices acionários ficaram nesta quinta-feira entre 1,75% (Dow Jones) e 3,52% (Nasdaq). “No último mês, houve progressão nos rendimentos dos Treasuries que os coloca agora em um nível de desconforto para o mercado, acima da marca de 1,40% para o yield da T-note de 10 anos. Desde o fim do ano passado, ocorreu grande rotação, do setor de tecnologia, o mais beneficiado pela pandemia, para as ações da economia real, segmento que tende a responder ao avanço da vacinação. O momento agora é de volatilidade, o que dificulta fazer uma boa leitura – ainda mais complicada, em Nova Iorque, onde o investidor de varejo responde por 20% a 25% do volume”, observa Scott Hodgson, gestor de renda variável na Galapagos.

“O yield de 10 anos nos EUA, no maior nível desde fevereiro do ano passado, eleva o prêmio exigido pelo mercado para a tomada de risco na renda variável e, consequentemente, reduz o potencial de valorização das ações. Com boa parte das bolsas nas máximas, esse aumento da percepção de risco culmina em realização de lucros, com os investidores em busca de melhor nível de preço para ter um risco/retorno adequado”, aponta Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. Ele acrescenta que o Ibovespa permanece com “viés de baixa no curtíssimo prazo”, ao voltar a “esbarrar” hoje na faixa de 116 mil pontos que havia sido o “último fundo perdido na segunda”, quando o índice cedeu 4,87%, chegando a 111.650,26 pontos na mínima daquela sessão.

Ante a incerteza quanto a uma correção induzida a partir dos EUA, onde o avanço dos yields corresponde a uma expectativa de inflação maior no país – o que pode tirar o Fed da zona de conforto, em meio à retomada econômica que tende a ser potencializada pelos estímulos monetários e fiscais, bem como pela vacinação -, o saldo do investimento estrangeiro na B3 passou de positivo a negativo no mês, movido também pelas preocupações que prevaleceram desde a última sexta-feira, sobre interferência política na Petrobras.

Neste contexto menos favorável, as perdas na B3 voltaram a se espalhar nesta quinta-feira por empresas e setores. Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para WEG (-8,30%), à frente de Ultrapar (-7,52%) e de CSN (-6,70%). Apenas duas ações do Ibovespa conseguiram se descolar do dia amplamente negativo para auferir modestos ganhos: Multiplan (+0,45%) e Telefônica Brasil (+0,29%). Entre as blue chips, Petrobras ON e PN cederam respectivamente 3,87% e 4,96%, enquanto Vale ON caiu 2,27%. As perdas entre os bancos ficaram entre 2,37% (Bradesco PN) e 3,02% (Santander) e, na siderurgia, entre 3,76% (Gerdau PN) e 6,70% (CSN).

Juros

Os juros futuros fecharam em alta consistente nesta quinta-feira. A nova escalada do retorno dos Treasuries continuou penalizando a curva de juros brasileira e hoje também as moedas emergentes com o dólar superando os R$ 5,50. Com a T-Note de dez anos atingindo 1,50% no intraday e, aqui, com o noticiário negativo sobre o andamento da PEC Emergencial, a curva seguiu bastante inclinada, sem espaço para reações positivas aos dados fiscais melhores do que a mediana das estimativas.

Na avaliação dos profissionais, tudo conspira para o Banco Central começar imediatamente o ciclo de contração da Selic com aumento de 0,50 ponto porcentual, aposta que já aparece com 80% de probabilidade para o Copom de março na curva. Nesse cenário de estresse no exterior, o Tesouro reduziu drasticamente a oferta de prefixados longos no leilão.

Para Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, a curva americana sobe com o mercado “tentando adivinhar por quanto tempo o juro fica nos atuais níveis” na medida em que avançam as negociações e a pressão do Congresso pelo pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão. “O Fed está tentando ganhar no discurso, mas não está conseguindo”, disse.

Ao fator externo, somou-se a frustração com o andamento da PEC do auxílio emergencial, cuja votação no Senado era esperada para hoje, mas foi adiada para quarta-feira. Cresce ainda a pressão pelo fatiamento da proposta, que dê prioridade ao pagamento do benefício antes da definição das contrapartidas fiscais. O secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, explicou que a abertura de um crédito extraordinário para o pagamento do benefício exige a suspensão de regras fiscais por meio da aprovação da PEC. “É preciso atacar o teto, suspender a meta de primário e lidar com a regra de ouro. Para isso, é preciso aprovar a PEC Emergencial e só então andar com o processo”, respondeu. O secretário-adjunto do Tesouro, Otávio Ladeira, acrescentou que “não há espaço” para se fazer isso de forma diferente.

Nesse contexto, as boas notícias do dia ficaram em segundo plano. A arrecadação de R$ 180,221 bilhões de janeiro superou a mediana das estimativas, de R$ 175 bilhões, e também o superávit do governo central, de R$ 43,219 bilhões em janeiro, veio melhor do que o consenso de R$ 39,7 bilhões.

A aversão a ativos de risco levou o Tesouro a reduzir a oferta de NTN-F para 300 mil papéis, de 2 milhões na semana passada. Em compensação, elevou o lote de LTN, de 14 milhões para 19,5 milhões. Tudo foi colocado integralmente, até mesmo o lote de até 500 mil LFT.




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