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sexta-feira 26 abril 2024
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Abutres americanos à espreita de Dilma

Um escritório americano incluiu o nome de Dilma Rousseff em uma ação contra a Petrobras nos EUA. Move-se como abutres esperando que a presa sangre.

David Schenfeld / Flickr

Combustível pesado. Dilma Rousseff passou o domingo junto ao mar, montando as peças do gabinete com o qual vai iniciar na próxima quinta-feira (1) seu segundo mandato, marcado por denúncias de corrupção na Petrobras, agravadas após uma nova ação judicial promovida por um escritório de advocacia diante de um tribunal de Nova York. Somente os incautos podem acreditar na independência da Justiça norte-americana, em meio a uma trama dos interesses petroleiros que visam a desnacionalização da Petrobras. Os abutres que atacam a Argentina nos tribunais de Nova York se prestam a outra ofensiva, agora contra o Brasil.
 
Dilma já anunciou Joaquim Levy, um executivo do banco privado Bradesco como ministro da Fazenda, dois quadros do PT nos cargos de maior peso político, Aloízio Mercadante, à frente da Casa Civil, e Miguel Rosetto na Secretaria-geral da Presidência.
 
Ainda não resolveu alguns postos chave, como o ministro de Relações Exteriores, para onde poderia ir o atual chefe da Defesa, Celso Amorim, diplomata de carreira que foi chanceler durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo uma versão publicada recentemente pelo jornal O Estado de S. Paulo.
 
Se confirmado o nome de Amorim – cujos oito anos como chanceler se caracterizaram pela acentuação da integração regional – ele assumiria durante o semestre em que o Brasil exerce a presidência pro tempore do Mercosul, coincidindo com a Cúpula das Américas no Panamá, em abril, quando se espera a presidência de Cuba, após a retomada das relações com os Estados Unidos.
 
Outra pasta que aguarda definição é a de Comunicações, onde o PT espera que seja nomeado Ricardo Berzoini, que manifestou seu compromisso com uma política de democratização da mídia, que contaria com a benção de Dilma, interessada, segundo anunciou, na regulamentação econômica de rádio e televisão.
 
Nem Amorim, nem Berzoini foram salpicados pelas denúncias de subornos e lavagem de milhões de dólares descobertos pela polícia federal na operação Lava Jato, de altos funcionários da Petrobras e das maiores empresas construtoras do país.
 
De fato, foram atingidos alguns membros do governo e vários dirigentes de partidos aliados.
 
Estas forças políticas, em geral de direita, colocam como condição para permanecer na aliança que sustenta o governo que lhes assegura cadeiras no gabinete de 39 ministros que posarão com Dilma na foto oficial. Até então, são conhecidos os nomes de apenas 16 colaboradores.
 
Acontece que devido ao segredo judicial, Dilma desconhece a identidade dos 28 políticos denunciados diante da Justiça pelo preso Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras que abriu a boca para se beneficiar com delação premiada.
 
A presidenta pediu à Procuradoria Geral da República que revelasse quem são os acusados, mas a instituição lhe negou informação, alegando segredo de Justiça, que somente será levantado em fevereiro, quando o processo chegar ao Supremo Tribunal Federal.
 
A rigidez da Procuradoria diante do pedido da presidenta não corresponde à atitude irresponsável de juízes e policiais federais que filtraram dezenas de nomes para a imprensa de oposição. Fica clara a parcialidade do poder Judiciário e seu compromisso de cumplicidade com a oposição conservadora do PSDB.
 
Como consequência, Dilma terá que escolher com muito cuidado e se valendo de informações extraoficiais os nomes de alguns ministros, correndo o risco de que, em fevereiro, tenham que renunciar caso apareçam na lista empetrolada.
 
Isto mostra até onde o caso Petrobras interfere nas decisões com vistas ao segundo mandato dilmista.
 
E não é somente isto. Na semana passada, o escritório jurídico Labaton Sucharow abriu uma causa em Nova York alegando que acionistas norte-americanos foram prejudicados porque os balanços da petroleira foram manipulados.
 
Em sua demanda, Labaton Sucharow inclui Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda Guido Mantega como “pessoas de interesse”, ou seja, não são acusadas, mas poderiam ser chamadas a depor em condição de testemunha, com o consequente impacto político que isto implicaria. Além de uma potencial queda das ações.
 
Os letrados de Labaton Sucharow e a outra dezena que impulsionam ações similiares agiram mais guiados pelo sentido da oportunidade do que pela justiça. Em outras palavras: movem-se como abutres esperando que a presa sangre.
 
Esses escritórios incluem Dilma com indissimulada intencionalidade política. Não citam o nome da presidenta para evitar levantar suspeitas em relação à sua honra, gerar escândalo e aumentar o preço que poderiam cobrar pela Petrobras para chegar a um acordo.
 
A entrada em campo dos estudos de advocacia norte-americanos representa uma hipoteca para a Petrobras, ao desnacionalizar o processo judicial e uma espada de Dâmocles não somente jurídica, mas também diplomática, com a qual Washington poderá ameaçar o futuro governo.  
 
Quem quiser elaborar um prognóstico do que acontecerá nos tribunais de Nova York pode consultar como esses juízes, claramente parciais a favor dos credores norte-americanos, trataram o assunto da dívida externa argentina. Os abutres estão à espreita.
 
Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, os grandes escritórios jurídicos e magistrados se comportam como braço jurídico do poder hegemônico.
 
Neste final de semana, após ser revelada uma nova ação judicial em Nova York, o economista Luiz Gonzaga Belluzo, assessor da Presidência, declarou que está em curso um plano para desmantelar a companhia fundada em 1953 por Getúlio Vargas.
 
“Na verdade, o que se quer é privatizar ao máximo a exploração do petróleo e tirar tudo o que for possível da Petrobras… o que estão fazendo é imperdoável porque tudo isto enfraquece muito a empresa”, disse ao portal Brasil Atual.  
 
Enquanto isso, a presidenta permaneceu no domingo em uma praia da Bahia para onde viajou com sua mãe, sua filha e seu neto Gabriel.
 
Aqui em Brasília, o Rolls Royce presidencial percorreu no domingo a avenida principal em um ensaio do que será o desfile de Dilma antes de sua posse e posterior saudação ao público da varanda do Palácio do Planalto, onde já foram colocadas parte das cadeiras para os dois mil convidados, entre os quais se destacam o presidente venezuelano Nicolás Maduro, o vice norte-americano Joe Biden, além da chilena Michelle Bachelet e de seu colega uruguaio José Mujica
Fonte Carta Maior



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