Ferramenta retornará associada a mudanças em protocolos, pressões de setores econômicos, falta de engajamento e cenário ainda de colapso
Alicerçado em uma curva de contaminações, internações e óbitos por Covid-19 que cresce em alta velocidade, encorpado por opiniões opostas sobre o enfrentamento a pandemia e elevado pelas questões eleitorais de 2022, é grande o tensionamento na relação entre o governo do Estado e os prefeitos a respeito da gestão do colapso. De público, os administradores municipais ‘engoliram’ a suspensão temporária da cogestão no sistema de distanciamento controlado, principalmente porque entenderam que, por ora, insistir no contrário também lhes prejudicava, já que a agonia da saúde tem impacto direto sobre as transferências de pacientes entre cidades.
Mas diferentes movimentos, contudo, indicam que parte significativa deles resiste em abrir mão da “autonomia” na aplicação de regras de enfrentamento à pandemia, e ajudam a explicar as dificuldades na execução das medidas mais duras de restrição à circulação.
Entre estes movimentos estão avaliações de desembarque do sistema de cogestão e formação de grupos paralelos de técnicos. A cogestão, de fato, está no que tanto gestores e técnicos resumem como “uma encruzilhada.” Ela foi suspensa temporariamente pelo governo estadual até 22 de março. Na última quarta (10), o governador Eduardo Leite (PSDB) garantiu que será retomada dentro do prazo, sem prorrogações. Mas voltou a destacar que a bandeira preta vai perdurar no RS para além do dia 22. Pelo menos até o final de março. E que os protocolos da bandeira vermelha (a que antecede a preta e, portanto, cujas regras cidades em cogestão em tese poderiam adotar) vão ficar mais restritivos.
A garantia do prazo tem por objetivo baixar a tensão e mais uma vez buscar o engajamento dos gestores municipais, mas a combinação com a manutenção prévia da bandeira preta, que traduz a situação real do Estado, a novas regras para a vermelha, acrescida pelo quadro de contágios, internações e óbitos, lança mais uma vez dúvidas sobre o sistema.
“Qual seria a justificativa para retomar a cogestão sem que já tivesse se iniciado uma redução consistente nos números?”, questiona um membro do Gabinete de Crise. A frase traduz o entendimento de técnicos que assessoram o governo do Estado para quem, no dia a dia, o que vinha ocorrendo dentro do sistema era uma ampla flexibilização. Nela, cidades de regiões classificadas com bandeira vermelha, por exemplo, adotavam protocolos de bandeira laranja que, no cotidiano, acabavam se transformando em “bandeira nenhuma”, resultante da combinação entre o afrouxamento da fiscalização e o descrédito da população ante a modificação constante das regras de um sistema que já era inicialmente complexo.