Vida e morte, mais do que eventos, são dinâmicas interiores.
Não falo sobre o nascimento ou o evento fúnebre, mas sobre estágios de alma que se projetam em nosso caminho o tempo todo.
Vivo tentando ser o que não sou. Estou morto. Morro para as expectativas criadas por minhas ilusões. Estou vivo.
Enquanto tentamos compreender a morte sob a perspectiva do tempo, como se ela representasse um desfecho, conviveremos com o medo. Não importa suas crenças.
Seja os que acreditam na tal “vida após a morte”, seja os que pensam que “após a vida, o nada”, tanto faz se é oriental ou ocidental, toda tentativa de reduzir vida e morte aos entendimentos mentais promoverá inquietudes.
Vida e morte acontecem simultaneamente.
Nossa projeção fragmentada referenciada no tempo nos dá a impressão de linearidade: há começo, há meio, há fim, há depois, não há nada.
Mas o tempo também é relativo. Eu já morri. Eu ainda nem nasci. Morro e nasço todos os dias, no dia que chamo hoje.
A experiência com a morte é sempre uma experiência fora de nós, portanto, reflete nossos medos, nossas crenças, nossas cegueiras.
Quando a nossa morte chega, percebemos que ela sempre esteve lá, que é parte da vida, que uma ou outra eram linguagens de uma coisa só.
É preciso pacificar-se com a vida. Deixar de especular o que é o “lado de lá”, o que será “depois”, como vai ser afinal de contas meu Deus?
Quem faz as pazes com a vida, vira amigo da morte.
Quem descansa no hoje entendeu que tudo o que enxergamos na linha do tempo é reflexo.
Não há fim porque não há começos.
Não há depois porque não há antes. Tudo acontecendo ao mesmo tempo, no único que existe, naquele que vivo. Vida e morte, mais do que eventos, são dinâmicas interiores.
Fonte Flavio Siqueira