Por Karina Castilho
Certo dia, após ver e ler tantos textos culpando ou acusando um policial no exercício de sua tarefa, confesso que cansei! E não estou questionando se a mídia apenas fez o seu papel e relatou o fato ou se o policial, efetivamente, estava errado.
Minha “indignação” era ler apenas textos sobre isso, como se o trabalho da Polícia ficasse restrito ao fato ruim. Percebi que estava faltando algo, faltava a “voz” do policial. Procurei textos que mostrassem algo positivo dessa profissão honrosa.
Ao deparar-me com ações positivas, pensei: será que eu realmente conheço a Polícia?
Pois bem, passados poucos dias meu filho começou a fazer perguntas sobre a Polícia.
A princípio achei estranho porque ele não tem influência da mídia (filmes, novelas, etc), apenas acesso a poucos desenhos ou filme infantil.
Até que ele disse:
– Mamãe a polícia é legal?
– Sim, filho. Por que?
– Eu gosto da polícia!
– Mas por que você gosta?
Onde aprendeu sobre isso?
– A polícia prendeu o McQueen (personagem do filme “Carros” da Disney) porque ele fez coisa errada.
– E você gostou da polícia por isso?
– Sim, mamãe.
A polícia é legal.
Ela não gosta de coisa errada.
Ainda pensativo, disparou:
– Ô mamãe, eu posso ver a polícia?
Pode mamãe?
– Ah, pode! Só não sei se vai dar certo.
Eles podem estar muito ocupados, mas vou tentar, ok?
– Obrigado, mamãe.
Ao fim desse breve bate papo, encerrado com muito carinho, fiquei pensando em como chegaria na delegacia e pediria para realizarem o “sonho” do meu garoto.
Pareceu-me, naquele momento, a coisa mais tola a se fazer.
Porém, não tinha escolhas; eu prometi que tentaria.
E lá fomos nós (eu, meu marido e nosso filho).
Ao chegar no Batalhão, perguntei para dois policiais se eles podiam me ajudar.
Expliquei que meu filho estava no carro e pediu para conhecer a polícia.
Imediatamente – eu disse: IMEDIATAMENTE – antes que terminasse de concluir, os dois disseram:
– Com certeza!
– Cadê o garoto?
– Vamos lá…
E eles foram até o carro e receberam meu filho com tanto apreço!
Se eu não tivesse ido teria perdido a chance de ver o sorriso no rostinho lindo do meu filho, Benjamin.
Ao ver a total satisfação dele percebi que talvez eu não conhecesse a Polícia tão bem assim. Eu cresci aprendendo a admirar o trabalho do policial, a respeitar o profissional que por diversas vezes arrisca a própria vida para salvar o próximo.
E em meio a tantas notícias e críticas, deixei com que essa admiração ficasse um pouco “esquecida”.
Porém, com a experiência que tive com meu filho, em que ele era apenas o coadjuvante da cena, pude vê-lo tornar-se o principal – apenas porque aqueles policiais tiraram a luz de si próprios e focaram na criança.
Que hombridade!
Enquanto muitos pais amedrontam seus filhos, acusando indevidamente a polícia, ou ameaçando-os dizendo que “a polícia vai te pegar”, eu tomei uma decisão diferente! Escolhi ensinar ao meu filho que ele pode confiar na Polícia.
Que ele deve pedir ajuda sempre que necessário.
E para ter a certeza de que estava certa em minha decisão, e que tudo não passava de um “conto de fadas”, voltei para conversar com os dois homens que realizaram o desejo sincero de uma simples criança.
Quem são eles?
Permita-me apresentá-los: Cabo Zanuto e Cabo Albuquerque, de Marília-SP.
Há mais de 15 anos eles optaram por cuidar do próximo, proteger, orientar e acolher. E é claro que prender o indivíduo e entregá-lo à justiça também faz parte do trabalho.
Mas durante a entrevista, entre tantos relatos importantes que ouvi, quero destacar este: ao relembrar as lutas e bênçãos na carreira, eles compartilharam a ocorrência que marcou suas vidas.
Curiosamente, nenhuma delas está relacionada à agressão, apreensão, corrupção, tiroteio, ou qualquer outro assunto que parecem definir o policial para muitas pessoas.
Entre os momentos especiais de suas carreiras, está a oportunidade singular de salvar vidas!
Para o Cabo Zanuto, quando ainda estava em São Paulo, Capital, atender uma mulher em trabalho de parto, dentro da residência e conduzi-la até o hospital foi memorável. “Quando recebemos o chamado, fomos informados que o Samu estava com dificuldades de chegar até o local de difícil acesso.
A gente correu todos os riscos entrando na comunidade, mas transportamos aquela mulher (em cima de uma cadeira), carregamos ela nos braços até chegar na viatura do Samu.
Depois seguimos para o hospital. A polícia cuida das pessoas”, disse Zanuto.
Já o Cabo Albuquerque relembrou de uma mulher que estava prestes a cometer suicídio! A família dela, muito aflita, chamou a Polícia.
Enquanto várias pessoas tentavam acalmar aquela mulher, que estava com uma corda no pescoço e prestes a saltar da cadeira, Albuquerque pensou na seguinte estratégia:
“Fiz sinal aos policiais e dei a volta na casa para tentar entrar pelos fundos, assim a senhora não iria me ver.
Era algo arriscado, mas eu acreditava que podia salvar aquela vida. Este é o meu trabalho.
Aos poucos, sem que ela percebesse, enquanto os policiais conversavam com ela, eu chegava mais perto.
E de repente, ela saltou, pulou da cadeira.
Mas eu estava bem ali, atrás dela e pude salvá-la”.
Este fato rendeu a ele a Láurea do Mérito Pessoal.
Trata-se do reconhecimento da Instituição em função da qualidade da prestação do serviço do Policial Militar.
Quando realizamos o desejo sincero de uma criança, toda a sua felicidade se volta para nós, como demonstrou Benjamin ao abraçar o Cabo Zanuto.
Depois de ouvi-los, voltei para casa e indaguei:
de quantas críticas se faz uma Polícia?
Quanto tempo perderemos tentando “tirar o cisco do olho deles” enquanto não vemos a “trave” que está no nosso?
Será que realmente sabemos quem são eles ou o que precisam suportar para servir 24 horas?
Não sei para vocês, queridos leitores, mas para a nossa família eles são como anjos que usam uniforme, e ainda conseguem realizar os mais simples sonhos ou colaborar para o principal anseio de todos nós: viver melhor e em segurança!