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segunda-feira 29 abril 2024
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Se non è vero è bene trovato; O velório da Nonna. Viviane M Foresti.

Se non è vero è bene trovato
O velório da Nonna

A Nonna morreu em 1970 , quando eu tinha 14 anos e seu velório foi o primeiro a que fui obrigada a comparecer. Até aí eu sempre fugia como o diabo da cruz, de qualquer velório, mesmo que oferecessem bolo e bolachinhas caseiras. Não tinha nenhuma curiosidade de ver o defunto, como certas pessoas da mesma família. Mas dessa vez não tinha como fugir!
Naquele tempo, no interior, ainda velava-se o defunto em casa, na sala, sempre enfeitada com seus guardanapos de crochê e seus bibelôs e que nunca era usada por ninguém. Sempre achei que ela só existia para ser usada em caso de morte pois era a única ocasião em que se permitia seu uso sem restrições.
Bem, na época o velório durava 24 horas, tempo suficiente para a parentada se deslocar da colônia e arredores e se ter certeza que o morto não iria ressuscitar.
Isto significava uma casa sempre cheia de gente que não se via a meses, quiçá anos, e que aproveitava a ocasião para colocar as novidades em dia.
Enquanto as mulheres e os parentes mais próximos choravam na sala eu me escondia na cozinha junto com os homens, ao redor da mesa guarnecida com pão, queijo , salame e um garrafão de vinho da colônia. Sentada quieta, junto ao fogão à lenha onde borbulhava um panelão de brodo, indispensável para manter o moral dos parentes e amigos.
Na cozinha o clima era outro e para minha surpresa ninguém chorava, ao contrário, contava-se piadas em dialeto, lembrava-se de fatos engraçados e ria-se muito até que alguém viesse chamar a atenção dos inconvenientes.
Tudo corria bem no meu esconderijo até o momento em que alguém resolveu chamar os netos e colocá-los em fila para beijar a Nonna na sua despedida. Logo eu que não beijava nem a estátua do Cristo na Cruz, exposta no altar lateral Igreja Nossa Senhora de Lourdes na Semana Santa. Jamais!
Então, covardemente me escondi atrás da cozinheira e graças a Deus fui salva pelo meu pai, que com sabedoria liberou seus filhos para se despedirem à sua maneira, embora os primos nos olhassem com um misto de inveja e desgosto pela nossa fraqueza, fomos poupados dessa situação constrangedora que não acrescentaria nada a nossas vidas a não ser pesadelos.
Sobrevivi a esse velório mas continuo fugindo sempre que posso.

Foto do perfil de Viviane Maria Foresti, A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas sorrindo, área interna e close-up

Viviane M Foresti.




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