Uma das principais exigências de Moscou é que a Otan ofereça garantias de que não vai se ampliar
A Rússia exigiu, nesta terça-feira (18), respostas “concretas” antes de continuar discutindo sobre a Ucrânia, enquanto os países ocidentais tentam levar Moscou à mesa de negociações para evitar um conflito militar.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, visitará Kiev na quarta-feira em um contexto de alta tensão, depois que a Rússia enviou dezenas de milhares de tropas para a fronteira com a Ucrânia.
Na semana passada também houve negociações em Genebra, Bruxelas e Viena, que não fizeram mais do que confirmar a brecha que separa a Rússia dos países ocidentais.
Moscou “agora espera respostas a essas propostas para continuar as negociações”, declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, nesta terça-feira em entrevista coletiva conjunta com sua homóloga alemã, Annalena Baerbock.
Uma das principais exigências da Rússia é que a Otan ofereça garantias de que não vai se ampliar.
Apesar dessas declarações, pouco depois o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou que convidou a Rússia e os sócios da Aliança para uma nova rodada de negociações.
Durante uma conversa telefônica com Lavrov, Blinken também defendeu a “via diplomática” para solucionar a crise, segundo Washington. Lavrov, entretanto, insistiu em que a Rússia espera respostas “concretas” e que elas cheguem “o quanto antes”, explicou Moscou.
O chefe da diplomacia americana visitará a Ucrânia na quarta-feira e, de lá, vai viajar para Berlim, onde se reunirá com representantes do Reino Unido, França e Alemanha para discutir o dossiê ucraniano. Blinken e Lavrov se reunirão na sexta-feira em Genebra, segundo um funcionário americano.
Em Washington, a Casa Branca disse que a Rússia estava preparada para um possível ataque à Ucrânia que poderia acontecer “a qualquer momento” e alertou que a resposta dos Estados Unidos incluiria todas as opções. “Nenhuma opção está fora da mesa”, disse a secretária de imprensa Jen Psaki à imprensa, alertando para uma “situação extremamente perigosa”.
“Ameaça”
A Rússia nega ter qualquer pretensão bélica e se declara ameaçada pelo reforço da Otan na região. Durante sua conversa com Blinken, Lavrov pediu a ele que “não propague especulações sobre uma suposta ‘agressão russa’ iminente”, segundo o ministério russo das Relações Exteriores.
Mas durante sua entrevista coletiva junto à ministra alemã das Relações Exteriores, Lavrov voltou a rejeitar o apelo dos ocidentais, que querem que Moscou comece a retirar as dezenas de milhares de tropas mobilizadas na fronteira com a Ucrânia. Ele afirmou que esses militares “não ameaçam” ninguém.
“Mais de 100.000 soldados russos, equipamentos e tanques foram mobilizados perto da Ucrânia, sem razão. Fica difícil não ver isso como uma ameaça”, respondeu, porém, Baerbock.
Aumentando as tensões, Moscou começou a mobilizar um número indeterminado de soldados em Belarus para exercícios “improvisados” de preparação ao combate nas fronteiras da União Europeia (UE) e da Ucrânia. Belarus faz fronteira com Polônia, Lituânia e Letônia, membros da Otan e adversários da Rússia.
O vice-ministro russo da Defesa, Alexander Fomin, informou a 98 adidos militares estrangeiros radicados em Moscou que essas manobras iriam acontecer, com o objetivo de “repelir uma agressão externa”. A primeira etapa, a da mobilização, já começou e vai durar até 9 de fevereiro. A segunda, de operação, vai acontecer de 10 a 20 de fevereiro.
Exigências inaceitáveis
Em resposta a uma revolução pró-Ocidente na Ucrânia, a Rússia anexou em 2014 a península ucraniana da Crimeia e é majoritariamente considerada um apoio militar dos separatistas pró-russos do leste da Ucrânia, palco de uma guerra há oito anos.
Além de um tratado que proíba uma eventual ampliação da Otan – e principalmente a adesão da Ucrânia e Geórgia -, a Rússia exige que americanos e seus aliados desistam de fazer manobras e implantações militares na Europa do Leste.
Para os ocidentais, essas reivindicações são inaceitáveis, embora afirmem estarem dispostos a continuar com as negociações com a Rússia para evitar um conflito armado de consequências imprevisíveis.
No entanto, o Reino Unido anunciou o envio de armamento à Ucrânia, como mísseis anti-tanques, enquanto Kiev se queixava de que os países ocidentais não pareciam ter pressa em reforçar sua ajuda militar ao país.
Correio do Povo