Paulo Marinho relatou que delegado da Polícia Federal repassou informações sobre Queiroz e atuou para adiar a deflagração
A investigação foi aberta após o ex-empresário Paulo Marinho revelar, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que um delegado da PF Rio informou a equipe do então deputado estadual Flávio Bolsonaro que a Furna da Onça chegaria ao Queiroz e sua filha, que até então trabalhava no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília.
O delegado teria sugerido que ambos fossem demitidos e disse que seguraria a operação para depois do segundo turno das eleições presidenciais. A Furna da Onça foi deflagrada uma semana depois do pleito, em novembro de 2018.
Segundo o procurador da República Eduardo Benones, ‘há notícias de novas provas que demandam atividade investigatória’ em relação a vazamentos da operação. Uma das primeiras medidas será ouvir, em depoimento, Paulo Marinho.
“As investigações do controle externo visam descobrir se policiais federais vazaram informações sigilosas para privilegiar quem quer que seja. Caso fique comprovado qualquer vazamento, mesmo uma simples informações, os policiais responsáveis podem ser presos e até perder o cargo por improbidade”, afirma Benones, que atua como coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro.
Após a revelação das declarações de Marinho, o desembargador Abel Gomes, relator da Furna da Onça no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, declarou que a operação “não foi adiada, mas sim deflagrada no momento em que se concluiu mais oportuno , conforme entendimento conjunto entre o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Judiciário”. Segundo Gomes,a deflagração após o segundo turno das eleições “seria o correto e consentâneo” com a lei.
Em nota, a Polícia Federal do Rio destacou que uma investigação sobre o vazamento de informações foi realizada e arquivada em 2018 após não serem encontradas evidências do crime. No entanto, destacou que “todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados”.
Ao Estadão, o criminalista Frederick Wassef, defensor do presidente Jair Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro, afirmou que nenhum membro da família presidencial solicitou adiamento ou teve qualquer tipo de ingerência em investigações da Polícia Federal.
Segundo ele, em um caso hipotético de comprovação de vazamento de informações e motivação política por trás da data escolhida para a operação, tais fatos “não implicariam em nada mais do que um procedimento administrativo da própria corregedoria da Polícia Federal para apurar as condutas praticadas pelo referido delegado federal”.
“Portanto, no máximo e no pior dos cenários, objeto de apuração dessa história teria como único participante, como único alvo e objeto, o delegado federal”, disse Wassef.