Durante a manhã de hoje, 12, foi desencadeada a Operação Desencadeada a Operação Bilhetagem, cumprindo 40 mandados judiciais, sendo 20 de buscas e apreensão e 20 medidas cautelares (proibição de aproximação das testemunhas e recolhimento noturno). Nas buscas, os cerca de mais de 90 policiais apreenderam três espingardas, dinheiros, vales transportes e documentos de controle de venda de passagens, um dos cobradores foi detido por porte ilegal de arma de fogo.
As investigações da Polícia Civil coordenadas pelo Delegado Diogo Ferreira tiveram início através de uma notícia Crime protocolada em 10 junho de 2015, pela concessionária de transporte coletivo Coleurb, quando relatos apontavam fraudes nos caixas das linhas de ônibus da empresa em um “esquema” denominado pelos investigados como ”rolo” ou “botar passagens”.
Passagens estudantis e vales-transportes comprados em pontos de venda ilegais a valores muito abaixo do tabelado, eram trocados no caixa das linhas de ônibus por dinheiro em espécie, referente ao valor integral da tarifa.
No esquema, os suspeitos subtraim para si o valor correspondente à diferença entre os valores pagos pelos passageiros. Ainda havia informações de que motoristas passaram a recrutar os novos funcionários da Coleurb, ainda em fase de treinamento na empresa, para assediá-los e convencê-los a entrar para o grupo que aplicava o esquema nos caixas das linhas de ônibus. Dessa forma, não só o golpe continuaria a ser aplicado por mais tempo, como também as estatísticas das linhas de ônibus não seriam alteradas, ou seja, os valores médios de passagens, vales-transportes e dinheiro de cada linha permaneceriam os mesmos, o que não chamaria a atenção da gerência da empresa.
Segundo foi possível apurar, esse esquema consistia na troca de cada turno de serviço e na retirada das diferenças dos valores do caixa. O cobrador que se recusava a fazer parte do “esquema” eram ameaçado, agredido e constrangido pelos funcionários já integrantes da organização, chegando ao ponto de alguns recém contratados optarem por desistir do emprego por medo.
Uma das formas de ameaça que mais chamou a atenção dos agentes policiais foi o caso de dois funcionários da empresa (motorista e cobrador) que organizaram um assalto encomendado a ser executado por assaltantes em uma linha específica de ônibus em que o cobrador estava se negando a participar do esquema. O objetivo do assalto, além de auferir lucro, era também de intimar o cobrador e convencê-lo a participar do esquema fraudulento.
A fim de reunir provas que levassem ao indiciamento dos envolvidos, câmeras de videomonitoramento foram instaladas em alguns dos ônibus da empresa e registraram o turno de serviço dos investigados. Após análise criteriosa das imagens, foi possível identificar qual a forma de pagamento utilizada pelos usuários do serviço de transporte coletivo e comparar o resultado com a planilha entregue pelo cobrador ao final de seu dia de trabalho, sem saber que estavam sendo monitorados.
Segundo a Polícia Civil, entre os cobradores que foram monitorados, 90% aplicaram o esquema (nove entre dez). A partir dessa comparação, foi possível comprovar, inequivocamente: montar estratégias pelo grupo ao ponto de manipular estatísticas; “tabelar” os valores a serem pagos por passagens em pontos de venda ilegal; combinar o valor pelo qual as passagens são trocadas no caixa das linhas de ônibus; recrutar novos funcionários; ameaçar os que se opunham ao esquema; e planejar a “encomenda de assaltos” para afugentar cobradores que se recusam a participar do grupo.
A Polícia Civil aponta a existência de uma Associação Criminosa formada principalmente por funcionários e ex-funcionários da Coleurb que agem conjuntamente com alguns dos responsáveis pela venda ilegal de passagens estudantis e vales-transportes no município de Passo Fundo.
Cabe ressaltar que boa parte das passagens vendidas ilegalmente é produto de roubos a transporte coletivo em que, além do dinheiro, também passagens estudantis e vales-transportes são subtraídos pelos delinquentes usuários de drogas de onde os autores dos roubos a transporte coletivo, trocando as passagens por entorpecentes. Posteriormente, os traficantes recolocam essas passagens no mercado ilegal,
O prejuízo estimado gira em torno de R$ 150 mil a R$ 200 mil reais mensais, ou seja, o equivalente ao valor de seis ônibus novos por ano, algo em torno de R$ 1 milhão e oitocentos mil anuais de prejuízo.
“A associação criminosa vai além do prejuízo financeiro suportado pela Coleurb, pois além de impactar diretamente na fixação do valor final das tarifas do transporte coletivo urbano em nosso município, que afeta a todos os cidadãos, também estimula a prática de roubos, em que há violência contra pessoas e estimula o tráfico de entorpecentes, gerando resultados lesivos a toda a sociedade” destacou o delegado Diogo Ferreira.
Depois que alguns funcionários passaram a colaborar com as investigações, passaram a ser ameaçados com ainda mais veemência pelos demais que, em conversas através de “whatsapp” chegaram a postar fotos caseiras de armas acompanhadas de textos ameaçadores como por exemplo, o caso de uma foto de uma espingarda calibre .12 sob a cama de um dos envolvidos no esquema seguida da frase: “vamos estourar esse X9” (termo usado para se referir à um possível delator).
Aparentemente muitos dos funcionários que participam do esquema, acabou internalizando essa conduta delituosa a sua rotina de trabalho e já considera esse “ganho extra” como parte de seus vencimentos, assim, limitamo-nos a identificar aqueles indivíduos cujos nomes foram citados pelas vítimas de ameaça e constrangimento ilegal que confeccionaram o devido registro destes fatos através de Boletins de Ocorrência Policial, ou aqueles que foram indicados pela direção da Coleurb, como sendo suspeitos desta prática, neste caso, baseado nas provas juntadas na apuração Policial, como os DVDs, as planilhas e as estatísticas”, complementou.