Em missa no sul do país, Francisco autorizou o uso de línguas autóctones nos rituais católicos
Foto: Gabriel Bouys / AFP / CP
O papa Francisco lamentou nesta segunda-feira a exclusão sofrida pelas populações indígenas e lançou um apelo para que a sociedade peça perdão durante uma missa para milhares de fiéis no empobrecido sul do México, onde autorizou o uso de línguas autóctones nos rituais católicos.
“Muitas vezes, de maneira sistemática e estrutural, os vossos povos (indígenas) foram alvo de incompreensão e excluídos da sociedade. Alguns consideraram inferiores seus valores, cultura e tradições (…) E isso é muito triste. O que nos faria bem, a todos nós, seria um exame de consciência e aprender a pedir perdão”, declarou o pontífice durante a missa em San Cristóbal de las Casas.
A homilia na pitoresca cidade montanhosa foi celebrada nos idiomas indígenas tzeltal, tzotzil e chol, e marcou a admissão dos idiomas autóctones para celebrar missas católicas. O papa chegou a citar na homilia o Popol Vuh, que narra a mítica cosmovisão maia.
A missa, carregada de música e oficializada ante uma multidão envolta em típicos agasalhos coloridos da região, teve um momento de grande emoção quando um sacerdote indígena chorou, ao rezar pelo papa em idioma tzotzil. “Queremos escutar a Deus e falar com ele em nosso próprio idioma”, agradeceu um representante indígena ao papa, a quem eles chamam “jTatik”.
Além do apelo em favor dos indígenas, Francisco citou a questão do meio ambiente no terceiro dia de sua visita ao México. “O desafio ambiental que vivemos e suas raízes humanas nos afetam e nos interpelam. Não podemos mais nos fazer de surdos frente a uma das maiores crises ambientais da História”, ressaltou durante a missa campal, realizada em meio às montanhas de Chiapas.
“A violência que há no coração humano, ferido pelo pecado, também se manifesta nos sintomas de doença que vemos no solo”, acrescentou o pontífice. Pela primeira vez, o uso de línguas indígenas locais foi autorizado nas cerimônias católicas durante a missa celebrada em um centro esportivo de San Cristóbal de las Casas ante diversos
grupos étnicos.
As leituras e os cantos da missa foram feitos em línguas chol, tzotzil e tzeltal e famílias tojolabales e zoques entregarão oferendas de pão e vinho. Chiapas, na fronteira com a Guatemala, é porta de entrada da América Central e do Sul para um fluxo em massa de migrantes que viajam clandestinamente com a esperança de chegar aos
Estados Unidos. A missa foi marcada por um momento de grande emoção, quando um padre indígena chorou ao rezar pelo Papa em língua tzotzil.
Para Rosa García, uma mulher tzeltal de 25 anos, “não importa em que língua se reze a Deus, Ele sempre nos entende. A diferença é que agora, na nossa língua, sentiremos a Deus mais próximo do nosso coração e do nosso sangue”. É importante a abertura da Igreja às línguas autóctones, disse Bernardo Barranco, especialista mexicano em religião. “Ao invés de os indígenas terem que adotar a Igreja, a Igreja adota a cultura indígena”, acrescentou.
Cerca de 30% da população de Chiapas fala unicamente línguas autóctones. Durante a missa, famílias de indígenas tojolabales e zoques entregaram as oferendas de pão e vinho, enquanto outros mostraram ao pontífice o dinheiro arrecadado para construir dois abrigos para migrantes.
O estado de Chiapas, onde fica San Cristóbal de las Casas, é o menos católico do México. Assim, a admissão das línguas autóctones é “de tremendo significado porque são os indígenas de Chiapas os que mais abandonaram o catolicismo no México”, explicou Andrew Chesnut, professor de estudos religiosos da Universidade da Virgínia Commonwealth.
Crise ambiental
Ao final da missa, Francisco recebeu bíblias nos idiomas tzotzil e tzeltal, bem como um Novo Testamento em língua tzotzil de Huixtán. “Temos um papa ao lado dos pobres!”, gritavam os presentes ao terminar a missa, em meio a acordes de violão e trompetes típicos da música mariachi.
Em sua mensagem, Jorge Mario Bergoglio alertou que o mundo não pode continuar ignorando a crise ambiental que atravessa, a qual qualificou de a mais grave de sua história. “O desafio ambiental que vivemos e suas raízes humanas, impactam e interpelam a todos nós. Não podemos mais nos fazer de surdos frente a uma das maiores crises ambientais da história”, expressou Francisco.
Ainda segundo o pontífice, “a violência que existe no coração humano, ferido pelo pecado, também se manifesta nos sintomas de doença que advertimos no solo”. Nos primeiros dias de sua visita ao México, Francisco denunciou o narcotráfico e a corrupção em mensagens destinadas à classe política e aos bispos.
Encontro com doentes
À tarde, o papa fez uma breve visita à catedral de San Cristóbal de las Casas para um encontro com doentes. Milhares de pessoas foram às ruas coloniais da cidade para ver a passagem de seu pastor. “Vamos rezar por nossos doentes, eles estão ajudando Jesus a levar a cruz. Vamos rezar para que Jesus lhes dê forças”, expressou Francisco, a quem uma multidão aguardava do lado de fora do tempo. Uma delas era a professora de sociologia Gabriela Rojas. “O que disse sobre ecologia e o respeito aos povos originários é o mais belo e autêntico que um papa disse”, comentou, emocionada.
Antes de entrar na catedral, Francisco visitou a tumba de Samuel Ruiz, um lendário bispo que foi mediador entre o governo e a guerrilha Exército Zapatista de Libertação Nacional, cujo levante em armas para defender os direitos dos indígenas sacudiu o país em 1994.
Reconhecer o trabalho do bispo Ruiz e integrar as culturas indígenas é “assegurar a sobrevivência da Igreja católica”, afirmou o padre Alejandro Solalinde, um ferrenho defensor das pessoas sem documentos. Posteriormente, o pontífice embarcou em um helicóptero com destino a Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas, para um encontro com as famílias.
“Muitas vezes, de maneira sistemática e estrutural, os vossos povos (indígenas) foram alvo de incompreensão e excluídos da sociedade. Alguns consideraram inferiores seus valores, cultura e tradições (…) E isso é muito triste. O que nos faria bem, a todos nós, seria um exame de consciência e aprender a pedir perdão”, declarou o pontífice durante a missa em San Cristóbal de las Casas.
A homilia na pitoresca cidade montanhosa foi celebrada nos idiomas indígenas tzeltal, tzotzil e chol, e marcou a admissão dos idiomas autóctones para celebrar missas católicas. O papa chegou a citar na homilia o Popol Vuh, que narra a mítica cosmovisão maia.
A missa, carregada de música e oficializada ante uma multidão envolta em típicos agasalhos coloridos da região, teve um momento de grande emoção quando um sacerdote indígena chorou, ao rezar pelo papa em idioma tzotzil. “Queremos escutar a Deus e falar com ele em nosso próprio idioma”, agradeceu um representante indígena ao papa, a quem eles chamam “jTatik”.
Além do apelo em favor dos indígenas, Francisco citou a questão do meio ambiente no terceiro dia de sua visita ao México. “O desafio ambiental que vivemos e suas raízes humanas nos afetam e nos interpelam. Não podemos mais nos fazer de surdos frente a uma das maiores crises ambientais da História”, ressaltou durante a missa campal, realizada em meio às montanhas de Chiapas.
“A violência que há no coração humano, ferido pelo pecado, também se manifesta nos sintomas de doença que vemos no solo”, acrescentou o pontífice. Pela primeira vez, o uso de línguas indígenas locais foi autorizado nas cerimônias católicas durante a missa celebrada em um centro esportivo de San Cristóbal de las Casas ante diversos
grupos étnicos.
As leituras e os cantos da missa foram feitos em línguas chol, tzotzil e tzeltal e famílias tojolabales e zoques entregarão oferendas de pão e vinho. Chiapas, na fronteira com a Guatemala, é porta de entrada da América Central e do Sul para um fluxo em massa de migrantes que viajam clandestinamente com a esperança de chegar aos
Estados Unidos. A missa foi marcada por um momento de grande emoção, quando um padre indígena chorou ao rezar pelo Papa em língua tzotzil.
Para Rosa García, uma mulher tzeltal de 25 anos, “não importa em que língua se reze a Deus, Ele sempre nos entende. A diferença é que agora, na nossa língua, sentiremos a Deus mais próximo do nosso coração e do nosso sangue”. É importante a abertura da Igreja às línguas autóctones, disse Bernardo Barranco, especialista mexicano em religião. “Ao invés de os indígenas terem que adotar a Igreja, a Igreja adota a cultura indígena”, acrescentou.
Cerca de 30% da população de Chiapas fala unicamente línguas autóctones. Durante a missa, famílias de indígenas tojolabales e zoques entregaram as oferendas de pão e vinho, enquanto outros mostraram ao pontífice o dinheiro arrecadado para construir dois abrigos para migrantes.
O estado de Chiapas, onde fica San Cristóbal de las Casas, é o menos católico do México. Assim, a admissão das línguas autóctones é “de tremendo significado porque são os indígenas de Chiapas os que mais abandonaram o catolicismo no México”, explicou Andrew Chesnut, professor de estudos religiosos da Universidade da Virgínia Commonwealth.
Crise ambiental
Ao final da missa, Francisco recebeu bíblias nos idiomas tzotzil e tzeltal, bem como um Novo Testamento em língua tzotzil de Huixtán. “Temos um papa ao lado dos pobres!”, gritavam os presentes ao terminar a missa, em meio a acordes de violão e trompetes típicos da música mariachi.
Em sua mensagem, Jorge Mario Bergoglio alertou que o mundo não pode continuar ignorando a crise ambiental que atravessa, a qual qualificou de a mais grave de sua história. “O desafio ambiental que vivemos e suas raízes humanas, impactam e interpelam a todos nós. Não podemos mais nos fazer de surdos frente a uma das maiores crises ambientais da história”, expressou Francisco.
Ainda segundo o pontífice, “a violência que existe no coração humano, ferido pelo pecado, também se manifesta nos sintomas de doença que advertimos no solo”. Nos primeiros dias de sua visita ao México, Francisco denunciou o narcotráfico e a corrupção em mensagens destinadas à classe política e aos bispos.
Encontro com doentes
À tarde, o papa fez uma breve visita à catedral de San Cristóbal de las Casas para um encontro com doentes. Milhares de pessoas foram às ruas coloniais da cidade para ver a passagem de seu pastor. “Vamos rezar por nossos doentes, eles estão ajudando Jesus a levar a cruz. Vamos rezar para que Jesus lhes dê forças”, expressou Francisco, a quem uma multidão aguardava do lado de fora do tempo. Uma delas era a professora de sociologia Gabriela Rojas. “O que disse sobre ecologia e o respeito aos povos originários é o mais belo e autêntico que um papa disse”, comentou, emocionada.
Antes de entrar na catedral, Francisco visitou a tumba de Samuel Ruiz, um lendário bispo que foi mediador entre o governo e a guerrilha Exército Zapatista de Libertação Nacional, cujo levante em armas para defender os direitos dos indígenas sacudiu o país em 1994.
Reconhecer o trabalho do bispo Ruiz e integrar as culturas indígenas é “assegurar a sobrevivência da Igreja católica”, afirmou o padre Alejandro Solalinde, um ferrenho defensor das pessoas sem documentos. Posteriormente, o pontífice embarcou em um helicóptero com destino a Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas, para um encontro com as famílias.
Correio do Povo
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