Jornal Meduza, de Riga, diz que seria “simplório” apontar relação dos suicídios com a comunidade virtual
Origem do “desafio da baleia azul” é contestada pela imprensa russa | Foto: Getty Images / Divulgação / CP
A origem do jogo que tem apavorado pais e autoridades está longe de ser clara. O marco zero do “desafio da baleia azul” carece de confirmações oficiais e é cercado de indagações. As primeiras menções ao caso surgiram em maio do ano passado, quando o jornal russo Novaya Gazeta, de Moscou, publicou uma matéria dando conta de que 130 suicídios de crianças e adolescentes haviam ocorrido no período de seis meses, todos relacionados com uma mesma comunidade de jogos on-line, a VKontakte.
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Antes mesmo de a matéria ganhar notoriedade no Ocidente, ela sofreu contestações na própria Rússia. As ressalvas eram, principalmente, de que a reportagem concluía que havia ligação entre a comunidade virtual e os suicídios porque várias das vítimas faziam parte do grupo. Outros veículos russos, como o jornal Meduza, de Riga, lembraram, contudo que seria simplório apontar tal relação, uma vez que os grupos poderiam não ser a causa ou os mandantes dos suicídios, mas sim uma comunidade que, em função dos temas abordados, reunia jovens com predisposição para tal comportamento.
Sites especializados em checagem de dados, como o norte-americano Snopes, observam que há razões para se preocupar com grupos que promovem o suicídio na Rússia, mas alertam que não há nenhuma prova de que um jogo ou um desafio tenha existido neste sentido. O “desafio da baleia azul” é classificado pelo site como não comprovado.
No Brasil, ainda que não exista um marco zero, foi a partir de abril que ele passou a ganhar mais destaque. O formato, no entanto, traz diferenças. Na matéria da Novaya Gazeta, em nenhum momento é citada uma relação de tarefas a serem cumpridas pelos envolvidos, como a supostamente verificada no desafio da baleia azul em sua versão brasileira. Ainda que autoridades relatem casos de atendimento em que as vítimas dizem cumprir missões de automutilação, não há sequer alguma comprovação de que exista, de fato, envolvidos orientando os adolescentes a obedecer tais tarefas.
Investigação policial
O tema também tem deixado em alerta os órgãos de segurança pública, especialmente com a possibilidade da divulgação do possível “jogo da baleia azul”. A delegada do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca), Adriana Regina Costa, explica que é prematuro associar casos de suicídio ou tentativa entre adolescentes e jovens ao jogo. Isso porque, segundo ela, a ocorrência desses casos sempre existiu.
Quando um paciente ingressa no sistema de saúde com alguma suspeitas de violência, é feita uma ocorrência policial e há uma investigação para apurar as causas. “Não é possível dizer que aumentou, mas o assunto tem gerado preocupação”, enfatiza.
Para eliminar suspeitas ou até garantir a comunicação, Adriana explica que foi formada uma equipe com representantes do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa e do Departamento Estadual de Investigações Criminais, na área de crimes cibernéticos, para mapear ocorrências e identificar os comportamentos.
A ideia é conseguir compreender a ligação entre os casos. Ao mesmo tempo, é mantido um trabalho focado na prevenção dessas ocorrências, como palestras e rodas de conversa que envolvam pais, jovens e escolas. “O melhor caminho é o diálogo. É que pais acompanhem a mudança de comportamento de seus filhos e busquem profissionais de saúde e ajuda. Mas precisam prestar atenção”, sentencia a delegada.
Correio do Povo