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sábado 23 novembro 2024
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Olhe de novo para aquele ponto. Por Flavio Siqueira

Olhe de novo para aquele ponto.
 Um corpo parado adiante. 
Essa é minha casa, isso sou eu. 
Nele, todos a quem amo, todos a quem conheço, qualquer um dos que escutei falar, cada ser humano que existiu, para mim, viveu sua vida aqui.
O agregado da alegria e do sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, em mim, num grão de pó sob um raio de sol.

O corpo, um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. 
Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração de corpos como esse.
As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxo, estendido diante do todo.
Somos como grãos solitários na grande e envolvente escuridão cósmica.
Nossos corpos são os únicos lares conhecidos, até hoje, que pode albergar o que chamamos de consciência humana. 
Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar.
Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo, nosso insignificante corpo, onde a vida acontece para nós. 
( Adaptação minha para o texto ” Pálido ponto azul, de Carl Sagan)




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