O dia em que o Cuca morreu
Devo começar deixando claro que sempre fui uma criança” bocó”, daquelas que sempre caiam em todas as pegadinhas e me tornei uma adulta não muito diferente e isto serve de atenuante para a história do Cuca.
Tudo começou com uma brincadeira que a mãe fazia conosco, quando crianças.
Nos chamava e dizia vou contar uma história que começa assim : “onde eu ia o cu caía”.
Só isso!
Enquanto as outras crianças desatavam a rir e saiam repetindo: onde eu ia o cu caía, onde eu ia o cu caía, eu uma pequena sonhadora, ouvia ” onde eu ia o Cuca ia” e via um cachorrinho fox paulistinha, preto e branco, chamado Cuca correndo atrás de uma menininha.
Igual a uma propaganda da Coppertone que eu via nas páginas das “Seleções”.
Mais tarde, quando minhas filhas eram pequenas, passei a repetir mil vezes esta ladainha.
Enquanto elas também riam eu continuava vendo o Cuca.
Muitos anos mais tarde, em um feriadão em Sarandi, enquanto a família tomava um chimarrão, reunida em volta da mesa da copinha, alguém se lembrou da brincadeira e todos sorriram saudosos….
Eu, em mais um momento de ingenuidade, soltei a pérola
– ” Para mim o Cuca sempre foi um fox paulistinha!”
Silêncio na mesa.
Então alguém perguntou:
que Cuca?
E eu como uma idiota, respondi: o cachorrinho….
Novo silêncio e uma gargalhada coletiva.
Neste exato momento, me caiu a ficha e aos 50 e tantos anos percebi com desgosto que o Cuca acabara de morrer.
Fiquei tão desconcertada que quase chorei.
Não de vergonha por mais um mico, mas sim por aquela menininha franjuda e emburrada que insistia em viver suas fantasias dentro de mim.
Hoje, cada vez que minhas filhas veem um cachorrinho preto e branco, logo dizem: mãe , olha o Cuca!
E a menininha se enche de lágrimas
Viviane M Foresti