O Conselho Que Ele Não Ouviu”
— “Menino, não pegue isso! Não mexa no que não é seu!”
A voz de Dona Lourdes ecoava firme na pequena casa de barro, mas parecia entrar por um ouvido e sair pelo outro.
Pedro, seu filho de 14 anos, sempre fora inquieto. Gostava de provar limites, como se o mundo fosse um jogo em que nada tivesse consequência. A mãe, viúva e batalhadora, fazia de tudo para criá-lo direito: trabalhava como lavadeira, acordava antes do sol nascer, e sempre repetia a mesma lição:
— “Respeite, meu filho. O errado pode até dar lucro por um tempo… mas no fim, só traz dor.”
Mas Pedro zombava:
— “Ah, mãe, a senhora só fala de medo. Quem não arrisca, não cresce.”
Um dia, ao passar pelo armazém da vila, viu um pacote de doces sobre o balcão. O comerciante estava distraído. A mãe, que vinha logo atrás, sussurrou assustada:
— “Pedro, não pegue. Eu te conheço, menino. Isso não é nosso!”
Mas a tentação foi mais forte. Com um gesto rápido, ele enfiou os doces no bolso. Sentiu-se esperto, como se tivesse vencido o mundo.
Aquela pequena transgressão acendeu algo perigoso dentro dele. Se era tão fácil, por que não pegar coisas maiores? Assim começou: primeiro foram moedas esquecidas, depois ferramentas do vizinho, até que um dia, na feira, meteu a mão no caixa de um vendedor.
Dona Lourdes chorava ao ver o caminho do filho. Implorava:
— “Pedro, pare enquanto é tempo! Não transforme sua vida num abismo.”
Mas ele não ouvia. Se sentia esperto, rápido, invencível. Até que chegou o dia da queda.
Numa noite chuvosa, Pedro e dois colegas resolveram invadir um pequeno depósito da cidade. Queriam roubar eletrônicos. O que ele não sabia é que o lugar tinha vigilância. Bastou um passo em falso e a sirene disparou. Em segundos, estavam cercados. Os outros correram, mas Pedro foi o único pego.
Levado para a delegacia, viu o olhar da mãe entrar pela porta. Não havia gritos, apenas lágrimas. Aquilo doeu mais que qualquer cadeia.
O juiz, considerando a pouca idade, deu-lhe liberdade assistida, mas deixou uma frase que Pedro nunca esqueceu:
— “Você não está aqui porque o mundo foi injusto, mas porque não ouviu quem mais te amava.”
Na volta para casa, envergonhado, Pedro caiu aos pés da mãe.
— “Mãe, eu devia ter te escutado. Hoje paguei o preço da minha desobediência.”
Dona Lourdes, com a voz embargada, apenas respondeu:
— “Eu sempre te avisei, meu filho. O errado pode até brilhar no começo… mas no fim, cega e destrói.”
Pedro cumpriu sua pena ajudando em projetos sociais. Passava os dias limpando praças, varrendo ruas e falando para outros jovens:
— “Escutem suas mães. Se eu tivesse dado valor ao que a minha dizia, não teria passado pela vergonha que passei.”

Quando alguém que te ama diz “não faça isso”, não é por maldade, mas porque já sabe a dor que está no caminho. A desobediência pode parecer liberdade… mas cedo ou tarde cobra um preço alto.