Impacto da paralisação já pode ser sentido em cidades fronteiriças como Foz do Iguaçu (PR) e São Borja (RS)
A nevasca que atinge a fronteira entre Argentina e Chile, desde sábado, impede o trânsito de turistas e de centenas de caminhoneiros brasileiros, que já preveem perdas devido à paralisação. A Federação dos Caminhoneiros Autônomos do RS (Fecam-RS) estima que 300 caminhões sigam presos na região. O cenário tende a piorar, uma vez que a previsão do Serviço Meteorológico Nacional da Argentina (SMN) aponta que as nevascas serão frequentes, nos próximos dias, em grande parte da Cordilheira dos Andes.
Diretor da Fecam e presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens de Uruguaiana (Sindicam), Pedro Paulo da Rosa Dutra fala em um prejuízo “incalculável”. Ele salienta que os caminhoneiros vem recebendo ajuda do governo chileno.
Conforme Dutra cidades fronteiriças, como Foz do Iguaçu (PR) e São Borja (RS), também já sentem, nas rodovias, o impacto da paralisação. “A carga para o Chile não está indo, não está sendo nem executada, porque não adianta botar as cargas em cima dos caminhões para ficarem parados no trajeto”, frisa.
Segundo Dutra, centenas de caminhoneiros seguem presos na região atingida pela nevasca. “Deve ter na fronteira, entre os que estão paralisados dentro do problema em si, no local da nevasca, entre 300 e 280 caminhões. E fora deve ter mais uns 500. Tudo do Brasil”, observa, acrescentando que em média, por dia, cerca de 400 caminhões partem do Brasil em direção ao Chile. “Há muita gente que está recolhida em quartéis”, esclarece.
“O Exército chileno salvou a vida de 295 caminhoneiros”, relata gaúcho preso em nevasca
O gaúcho Márcio Rodrigues Alves, de 41 anos, viveu momentos de tensão desde o início da nevasca que atinge a fronteira do Chile. Após entregar uma carga de folha de ofício em Santiago, Alves fazia, no sábado, o caminho de retorno a Uruguaiana quando a neve o impediu de seguir o trajeto pela Cordilheira dos Andes. Sem poder sair da região, se abrigou no caminhão à espera de ajuda. E o socorro chegou pelas mãos do Exército chileno, que acudiu Alves e outros 294 transportadores.
Na madrugada de segunda-feira, por volta das 5h, Alvez acordou com berros e alertas dos militares, que batiam nas portas dos caminhões para tirar os motoristas do local. A ação dos militares, segundo ele, impediu o pior. “Foi um momento de muita tensão. Saí do caminhão com ajuda do Exército, porque minhas pernas estavam congeladas por conta do frio”, relata. “O exército chileno salvou a vida de 295 caminhoneiros”, completa.
Ele lembra que previsão para sábado era de tempo bom para subir a Cordilheira dos Andes, mas por volta das 14h o sol desapareceu. “Começou um temporal de vento muito forte. Ficamos soterrados na neve, aguentamos nos caminhões por dois dias e passamos muito frio”, recorda. Conforme Alves, as laterais do veículo acumularam um metro de neve. ”Acabaríamos sendo atingidos pela avalanche”, relata.
Desde 2006, Alves – que é natural de Jaguarão – percorre a chamada linha do Mercosul, entre Argentina, Chile e Uruguai. A expectativa agora é retornar para a casa e reencontrar a esposa Aline.
“O exército chileno informou que a previsão é de abrir sol a partir de sábado, mas não acredito nisso por experiência própria. Não acredito que vamos conseguir seguir viagem no sábado, porque ainda temos que descongelar todos os caminhões”, observa.