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sexta-feira 22 novembro 2024
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Memorias de Sarandi – Seu Zibetti

MEMÓRIAS DE SARANDI 44

 

Época: Década de 1960

 

Humberto Tesser Paris

SEU ZIBETTI

O Seu Zibetti morava quase em frente a nossa casa na rua Paulo Dall’Oglio. A minha irmã Ivanise… e minha prima Alice… já contaram a história, só não se acertaram quanto a fruta. Alguem foi pedir ao Seu Zibetti se vendia frutas e ele respondeu: “Né pedir, né comprar e né robar e va via de quá que me fá um favor”. Desculpa o italiano, mas era assim que a história era contada.

O Seu Zibetti era uma espécie de sacristão, pois nas missas, na hora que o padre dava o sinal, ele já ia pegando a caixinha para fazer a coleta do dízimo dos fiéis. Não lembro da esposa dele, por isso acho que já era viúvo no meu tempo. Também não era de muita conversa, principalmente com nós que éramos criança.

Na primeira quadra da nossa rua, como já falei em outra oportunidade, praticamente não passavam carros, por isso era usada como uma extensão dos nossos quintais.

Na época de são João, quase sempre fazíamos uma fogueira no meio da rua. A gente plantava um pau mais alto no centro e íamos encostando pedaços de madeira, formando assim uma espécie de cone.

Teve um ano que estávamos fazendo a fogueira e o Seu Zibetti parou pra conversar. Ele disse que tinha uma plantação de milho em seu terreno, que já havia colhido e, se quiséssemos, poderíamos ir lá pegar para queimar na fogueira. Ponderamos, achamos que seria boa idéia e fomos pegar os pés de milho seco. Mas dava um bom trabalho ter de arrancar todos aqueles pés, daí passamos a desconfiar que o seu Zibetti não era tão bonzinho assim. Na verdade ele queria que a gente limpasse seu o terreno e paramos com a tarefa penosa. Mas os pés de milho acabaram dando um formato bem interessante a fogueira.

No dia de São João, quando a fogueira estava pronta, eu fiquei vigiando para que nada de errado acontecesse.0 irmão mais velho da Zilda Blank, que trabalhava com seu pai, passava todos os dias na esquina das ruas Paulo Dall’Oglio e Julio Mailhos, para para ir e voltar da marcenaria. Então ele parou, deu uma examinada e disse: “Vocês fizeram a fogueira bem em baixo dos fios de luz da rua. Vai queimar os fios.” Então tirou uma caixa de fósforos do bolso e ficou rodeando a fogueira e eu atrás preocupado. Ele ia dizendo, “vou botar fogo aqui”, andava mais um pouco e “vou botar fogo aqui”. Depois ele parou de me provocar, elogiou a fogueira e disse que viria de noite para ver.

Eu verifiquei que atualmente os fios passam pelo outro lado da rua Julio Mailhos.

A imagem pode conter: árvore, carro, casa, céu, planta e atividades ao ar livre




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