MEMÓRIAS DE SARANDI 89
Época: Década de 1960
Humberto Tesser Paris
QUADRA DO GINÁSIO
Quando anoitecia e, através da janela de casa, via as luzes acesas da quadra descoberta de futebol de salão do ginásio, eu era tomado pela emoção e a adrenalina já subia.
Tinha que pedir pra mãe se podia, mas, às vezes, ela não me deixava porque eu havia desobedecido ou porque minhas irmãs faziam caveira e diziam:
“Mãe o Beto vai lá na quadra e fica brigando com outros guris”.
Então eu desobedecia novamente e ia até a sala ou quarto da frente e pulava a janela (minhas irmãs também adotavam esta tática de pular a janela).
Minha mãe fingia que não sabia.
Eu saía bem apressado, as luzes da rua mais pareciam lampião, de tão fracas.
Dobrava a esquina e a quadra da rua Julio Mailhos, desde a rua Paulo Dall’Óglio até a avenida Expedicionário, não tinha iluminação.
Era um breu total e dava medo.
Eu mirava a iluminação lá da quadra do ginásio e saia apressado, tropicando de vez em quando numa pedra, mas não desistia do meu objetivo.
Chegando lá, era só felicidade.
Podia ser jogo de futebol de salão, vôlei em geral feminino ou misto e raramente basquete.
A alegria era maior se era contra uma equipe de fora da cidade, principalmente de Carazinho-RS, porque a rivalidade era muito grande.
Porém, do lado da quadra havia um gramado e, às vezes, era usado para lutas (e não brigas) entre os guris.
Eram dois lutando e os outros incentivando e podia esquentar a contenda. Ninguém queria perder, pois havia a humilhação da derrota.
Na verdade, nunca havia vendedor, porque aquele que estava em apuros arrumava uma desculpa:
“Para-para!”, “tem uma pedra me machucando as costas”, “fincou uma roseta no meu dedo”, “hoje tem muito micuim nessa grama”, “tem alguém me chamando” e por aí afora.
O dia que eu fiquei mais feliz foi quando o Gui Zanonato e o Tidio Perone se engalfinharam numa luta. Eles eram 2 a 3 anos mais velhos que eu e aprendi muita coisa com eles, inclusive anedotas pesadas que lembro até hoje, como aquela do português que … Pensando bem, é melhor não contar.
1 – Janela de casa que dava pra ver as luzes da quadra de futebol de salão do ginásio em Sarandi-RS.
2 – Ginásio Sarandi, com a quadra de futebol de salão na frente. Dá pra ver os refletores.
