MEMÓRIAS DE SARANDI 46
Época: Década de 1960
Humberto Tesser Paris
PERMANENTE
Quando eu estava estudando no grupo escolar João Carlos Machado, havia um prêmio que era entregue no final do ano ao melhor aluno da classe. Teve um ano que eu ganhei este prêmio. Era uma carteirinha chamada “Permanente”, que dava direito a assistir às matinés de domingo no cinema Guarani.
Fui bem faceiro para casa e deixei a dita permanente no bolso do avental.
Minha mãe o pegou pra lavar e depois veio, com um monte de pedaços de papéis molhados e rasgados, me perguntar o que era aquilo.
Mãããeee!!!
É a permanente pra eu ir ao cinema de graça!
Fiquei desanimado, mas não desisti…
No domingo de tarde fui até o cinema e montei os pedaços da permanente na mão espalmada e, como um garçom que apresenta o cardápio para o cliente, mostrei ao porteiro Justino Covati, que disse:
“Não pode entrar com isso aí, tem de pagar entrada.”
Fiquei sem saber o que fazer e não tinha dinheiro pra pagar a entrada. Daí a pouco começou a tocar a música “O Guarani”, que era o sinal de que o filme já ia começar.
Respirei fundo, tomei coragem de enfrentar o Justino de novo e contei toda a história da permanente em segundos. Então ele disse: “Tá bem, pode entrar, mas me dá isso aqui!”. E ficou com os restos da minha permanente.
Fiquei contente por ter conseguido entrar, mas ao mesmo tempo triste por não poder ir assistir de graça as matinés daquele verão.