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domingo 28 abril 2024
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Memorias de Sarandi – Bolitas ou bolinha de gude – Humberto Tesser Paris

MEMÓRIAS DE SARANDI 75
Época: Década de 1960
Humberto Tesser Paris
BOLITA ou BOLINHA DE GUDE
Bolinha de gude é um jogo que era uma febre entre a gurizada da minha época. Os principiantes usavam o método “cudegalinha” em que o dedo indicador “abraçava” a bolita e o polegar dava a força para atirar. Porém, este método não dava muita precisão e nem jogava com muita força a bolita. Por isso, havia outro método para dar mais força e precisão em que o dedo indicador ficava dobrado, a ponta apertava a bolita e o polegar dava a força para atirar.
O jogo começava com o “gude”, que era um círculo ou um triângulo riscado na terra que deveria ser plana, às vezes nem tanto. Fazia-se um risco reto a certa distância do gude, que era onde os jogadores deveriam ficar para atirar a primeira bolinha para ver quem seria o primeiro a jogar e não se deveria “queimar”, isto é, pisar nesse risco.
Cada jogador devia “casar” uma bolita dentro do círculo ou nas pontas do triângulo. As bolitas casadas ficavam em disputa pelos participantes. Cada jogador devia lançar sua bolita e a que estivesse mais próxima do gude era o primeiro a jogar e os outros ficavam na ordem do que estava mais próximo.
Mas, para iniciar o jogo também tinha uma ordem e aí era aquele que dizia “último” por primeiro, outro dizia “penúltimo” e assim por diante. O Batatinha Vanzeto, irmão do Nutcho costumava dizer “mútimo”. Se dois jogadores diziam “último” junto, daí tinham que tirar no par-ou-ímpar.
Todos sabiam as regras, mas sempre era bom repassar alguns detalhes polêmicos, para ver se eram aceitos ou não durante o jogo, como por exemplo: Havia o “botchão”, que era uma bolita bem grande, e se não fosse acordado que podia usar, um jogador acabava usando, principalmente se era o “último”. Se os outros estivessem muito próximos do gude, ele atirava o “botchão” de “carreirão”, para “nicar” e jogar as bolitas adversárias para bem longe. Sem o acordo, poderia causar uma desavença muito grande.
Cada um tinha a “jôga”, que era a bolita de sua preferência para jogar. A jôga era um pouco maior que as outras bolitas e ficava “carepa” de tanto uso, o que era bom, pois ela ficava menos lisa e facilitava para jogar.
Para ganhar, o jogador devia “nicar” as bolitas que estavam em disputa e jogá-las para fora do círculo ou triângulo. Numa mesma vez o jogador podia ganhar todas as bolitas. Terminava quando não havia mais bolitas em disputa.
Haviam “águidas”, que eram bolitas mais valiosas e mais coloridas. Elas valiam mais conforme o padrão da cor. Havia também as “leitosas”.
Havia os “frintchos”, que era uma bolita menor, mais rara e era usada porque ficava mais difícil do adversário acertar. Na verdade o frintcho era uma bolita falhada e às vezes meio oval.
Se você estivesse em um dia inspirado e com sorte, “rapava” os adversários.
Um dia estávamos jogando ao lado da quadra do Ginásio e o Valmor Davolio pegou uma bolita e, sem se abaixar, jogou com tanta força que quebrou uma das bolinhas.
Imagens meramente ilustrativas com o método “cudegalinha” e mix com “botchão”, “águidas”, “leitosas” e bolitas comuns.



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