MEMÓRIAS DE SARANDI 18
Época: Década de 1960
Humberto Tesser Paris
GADO NA AVENIDA
Na minha época não lembro de ter visto uma cena destas em que o gado era conduzido solto pela rua.
Na foto, a Avenida Expedicionário esquina com rua Sen. Alberto Pasqualini, aparecem o açougue do Favreto onde comprávamos a carne, um boteco que também vendia frutas, coisa rara em Sarandi naquela época, a antiga Rodoviária e a casa dos Corteze, onde, no final dos anos 1960, se instalou a família De Cesaro com a alfaiataria.
O AÇOUGUE
Com a família grande, minha mãe Adelaide Tesser Paris, já viúva, vivia sempre ocupada com a sua profissão de
costureira e afazeres domésticos, então delegava tarefas aos filhos mais velhos, que, com o tempo, iam passando para os mais jovens. Em conversa com meus irmãos, percebi que as histórias que aconteciam eram muito parecidas, principalmente quando a mãe pedia para que fizéssemos algumas compras no comércio.
Quando ela mandava comprar linha para costura, lá íamos com um pedaço de tecido na loja do Toazza. Se não
havia, tinha que ir a outros lugares. Eu me lembro de ir lá no Rabelo, Oltramari, Filippi … O difícil era encontrar a linha de cor adequada, daí vinha a bronca da mãe.
Mas nada se iguala as histórias da compra de carne. Como nós, ainda crianças, não entendíamos nada de carne, o açougueiro vendia pescoço por filé. Certamente nós fazíamos a felicidade do açougueiro. Chegando em casa com aquela carne horrível, a mãe ficava furiosa. Quando a carne era muito feia mesmo, ela xingava o açougueiro, blasfemava e jogava a carne na mesa, no chão, nas paredes… Com o tempo, eu largava a carne encima da mesa e saia de fininho, com medo da bronca. Nós, os irmãos dizíamos que a mãe,
enquanto aplacava a fúria, ia amaciando a carne. Este comentário malicioso nunca chegou aos ouvidos dela,
senão tinha! Tenho cisma com açougueiro até hoje, por causa destas histórias.