Ex Ministro afirmou que Bolsonaro desvia o foco da omissão do governo federal na pandemia ao estimular uso da cloroquina
Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) afirmou que os militares que agora comandam a pasta, liderados pelo general Eduardo Pazuello, são especialistas em “balística” em vez de “logística”. “Eu só vejo é acúmulo de óbitos nessa política que está sendo feita”, disse Mandetta.
O ex-ministro criticou a interferência do presidente Jair Bolsonaro em ações da Saúde. “Nós víamos sistematicamente a anticiência se propagar”, disse. Ele afirmou ainda que a Saúde perdeu a credibilidade após o governo federal tentar alterar a forma de divulgação de dados sobre a doença. “Você ter segredos é o caminho mais rápido para a tragédia. Primeira coisas que (os militares) fizeram foi não mais mostrar os dados às cinco da tarde. O Ministério da Saúde perdeu a credibilidade”, disse.
As declarações foram dadas em debate da revista IstoÉ, transmitido pela internet, no sábado. No mesmo evento, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que o Exército está se associando a um “genocídio”. “Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, disse Mendes. Por causa desta fala, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, anunciou nesta segunda-feira que vai encaminhar uma representação à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Gilmar.
Mandetta afirmou ainda que Bolsonaro desvia o foco da omissão do governo federal na pandemia ao estimular o debate sobre uso da cloroquina , medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19. “Quando ele lança a cloroquina, faz as pessoas ficarem nessa discussão, para esquecer a discussão verdadeira. Faz a massa não debater o verdadeiro problema: ausência total de política do governo federal.”
Por divergências com o presidente, Mandetta foi demitido em 16 de abril. O oncologista Nelson Teich, seu sucessor, pediu para deixar o governo em 15 de maio. Desde então a Saúde está sob comando interino de Pazuello.