Vítimas do acidente envolvendo um caminhão, que atropelou e matou quatro pessoas na RS-404 na tarde de terça-feira (10), a manicure Lori de Fátima dos Santos, de 43 anos, e o filho dela Thaison Mateus de Oliveira, 21, eram voluntários em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, cidade onde moravam. Por isso, eram conhecidos por ajudar quem precisasse, conforme o relato de uma amiga.
O acidente que tirou a vida dos dois ocorreu entre as cidades de Rondinha e Ronda Alta, no Noroeste do Rio Grande do Sul, e vitimou ainda outras duas pessoas. Os corpos de mãe e filho foram sepultados nesta quarta (11) em Constantina, no Norte do estado, cidade natal dela e de onde a família retornava de férias, antes da tragédia.
“A Lori morreu sendo Lori. Ela jamais ia passar em um lugar sem ajudar quem precisasse, mesmo se ela mesma corresse o risco, como ela correu. Ela era amor puro”, diz ao G1 a amiga Cleusa Oliveira, 42 anos, que também é voluntária.
De acordo com os policiais, o motorista de um Prisma perdeu o controle, capotou e bateu em árvores na altura do km 13 da rodovia. O agricultor João Paulo Mattei, de 67 anos, que morava perto do local do acidente, foi até o local e resgatou o condutor Erni da Rosa Rodrigues, 40 anos, que saiu com ferimentos leves.
Minutos depois, uma família que viajava também parou para prestar socorro. Mãe e filho desceram do carro para ajudar, quando um caminhão que vinha pela rodovia atingiu o grupo.
A caçula Thainy Joana de Oliveira, de 8 anos, e a namorada de Thaison, Melissa Garcia Godoi, 22 anos, foram encaminhadas para o Hospital de Ronda Alta. O estado de saúde delas é estável. Micheli da Silva Rodrigues, 17 anos, e Mateus da Silva Rodrigues, 14 anos, que eram passageiros do veículo Prisma, que capotou, foram encaminhados em estado estável para hospitais de Passo Fundo.
“A gente sabe que a Lori resgatou as crianças do outro carro, colocou elas no carro dela. E isso conforta até, sabe? Porque a gente sabe que ela estava fazendo o bem a alguém”, comenta a amiga.
Integrante da Sociedade Espírita, a família de Lori integrava o Caravaneiros do Bem, fundado há quase dois anos para praticar ações de caridade em Novo Hamburgo. Lori era uma das líderes. O grupo atendia, principalmente, moradores em situação de rua. Distribuía comida, arrecadava doações e fazia visitas regularmente.
“A Lori era muito ativa. Ela chegava e abraçava, beijava, quem quer que fosse. Não importava a cor, idade, sexo. Ela nos mostrava como era um amor grandioso”, lembra a amiga. “Nesse último ano, nos reunimos quase semanalmente. E foi o ano em que ela se dedicou muito, se destacou mesmo. E essa união fortaleceu ainda mais a nossa amizade”, conta Cleusa. As duas se conheciam há cerca de 10 anos.
Thaison foi ‘Papai Noel’ de indígenas
A caridade da mãe passou de exemplo para o filho. Depois que saiu do Exército, Thaison passou a se engajar nas ações de solidariedade. No último Natal, vestiu-se de Papai Noel para distribuir doações a um grupo de indígenas que costuma acampar na Rodoviária de Novo Hamburgo.
“No início ele [Thaison] fazia a comida para nos ajudar nas entregas das marmitas. Mas quando ele começou a sair pra rua, não quis mais parar. A Lori realmente envolvia toda a família na causa”.
Cleusa, o marido e uma amiga, que também integra o grupo espírita, viajaram até a cidade de Constantina para se despedir de Lori e Thaison. “A gente se chamava de ‘mana’. Perguntavam se nós éramos irmãs, até por sermos meio parecidas, e a gente respondia que sim, que éramos irmãs de coração”, completa, emocionada.
“É muita dor. A gente sente muito, é claro. Somos humanos. Mas vão ficar as lembranças boas. Nosso conceito diz que ela foi trabalhar do lado de lá. Ela cumpriu sua missão aqui”, conclui ela.