A Loja do Fridolino
………Bom dia, Amigo Leitor! O objetivo deste trabalho é salvar do esquecimento alguns fatos marcantes da história da Casa Santo Antônio, a “Loja do Fridolino”, líder comercial. Estou longe do arquivo e das fotografias. Tenho algumas lembranças e muita saudade. Uma lembrança puxa a outra. As pessoas que viveram aqueles dias felizes poderão complementar a redação.
………Oriundos do Empório Mercantil, o Pai e a Dona Irma (Maccari Grapíglia), fundaram, em 02 Mai 57, uma nova empresa. Localizava-se na esquina da Av 7 de Setembro com a Rua Tiradentes. A primeira freguesa foi uma senhora. Comprou dois pinicos. Achou o preço muito bom. A Sócia do Pai era leal, dedicada, compreensiva, discreta…
………Trabalharam na Loja, dentre outras, as seguintes pessoas: Jovilde (esposa), Lorena (filha), Clóvis (filho), Marlene Bozetti Papini, Ermides Bozetti, Duda Paris, Ivanice Paris, Neli Feil da Rosa Mattei, Sergio Girardi, Claudia Reolon…
………A Loja vendia de tudo um pouco: armas, munições, roupas, tecidos, ferragens, bolitas, bacalhau, fumo, óleo Palmolive, Q-Suco, alimentos, tintas, canos para chaminé, querosene, pregos, camas, colchões, material de pescaria, brinquedos e artigos mediante encomendas. O Pai, com boa vontade, vendia, fora de hora, foguetes, material de pesca, roupas, colaborando com a economia local.
………Ao longo dos 31 anos de vida da empresa, aconteceram vários fatos engraçados. Ainda na década de 50, um guri escondeu uma espingarda. Todos procuraram. Ninguém encontrou. O piá, que não quer se identificar, tinha medo do “João Barbudo” e queria enfrentá-lo. Ainda bem que criança não sabe guardar segredo: a arma apareceu.
………As armas eram belas. Os fregueses experimentavam dando tiros na parede de cima do armazém, espantando a meninada e os gatos (nasciam no armazém).
………Numa tarde de muito trabalho, uma caminhoneta deu ré na Rua Tiradentes, para descarregar. Entrou no pátio e caiu no “poço negro”! Tiveram que juntar várias pessoas para ajudar. O Pai exclamou:”Quem se viu isto?”
………Quando foi lançada a campanha dos refrigerantes com prêmios nas tampinhas, um guri perguntava para o outro: “Tu já tomou a tua Pepsi hoje?” Era uma época de fantasia e felicidade. A Loja participou.
………No temporal de 1960, o Armazém ficou estufado. Inflou, mas não caiu. Era um local de depósito e de brincadeiras diversas. O Pai gostava de dar susto nos cachorros. Ele gritava: “OIALÁ!” Gostava de citar provérvios. Sabia dezenas de cor. “Me dizes com quem andas que eu te direi quem és!”, “Mais vale acender uma vela do que maldizer a escuridão.“… Achava bonito o lema da Transportadora Aurora do Lino Hahn: “O Brasil produz. A Aurora conduz”.
………O Pai e o amigo Lino, quando descarregavam um caminhão, foram surpreendidos por um enorme ratão. Atrapalharam-se e o rato fugiu para o sistema de esgoto. Aconteciam fatos pitorescos no dia-a-dia, como a queda de uma cobra da bergamoteira. O gaudério não sabe se enfrenta ou foje! A erva-mate nem era tão boa assim!
………Mas nem todas as pessoas nos dão alegrias. Aconteceram, também, dias tristes. O Pai sofreu um grande desgosto, quando um freguês furtou, de cima do balcão, um revólver calibre 38. A arma foi recuperada com coragem e risco de perder a vida.
………Dias muito tristes foram aqueles em que uma arma, vendida pela Loja, foi empregada para cometer um crime. A vítima foi uma querida senhora de família tradicional. (A autoridade autoriza. O comerciante vende. O freguês emprega a arma, para o bem ou para o mal).
………Na década de 60, ainda criança, acompanhei uma reunião, cujo objetivo era liquidar a empresa. Havia inflação, prateleiras vazias… Foi uma noite dramática. Graças a Deus, decidiram manter a empresa viva. O dia do mês mais difícil para o meu Pai era aquele da confecção do mapa controle de armas e munições. Era um sofrimento! O Tenente do Exército sempre elogiava o trabalho pela exatidão e capricho!
………O Pai tinha o apoio de amigos leais: Procópio Silveira, Tobias Bachi, Lino Hahn, Albino Pizatto, Hilário Kern, Helton Klein, Oscar Seriotti, Arduino Giovanini…
………As janelas da Loja testemunharam lições de vida, paixões juvenis, histórias de amor… Em 1969, a Ivanice foi eleita Miss Sarandi! A Neli, meiga e leal, era a Caixa. Na década de 80, fazia as inscrições dos atletas das corridas rústicas. Quando Ela voltou do Mato Grosso, disse-me: “Os dias mais felizes das nossas vidas foram aqueles do tempo da Loja do Fridolino!”
………Dores nas pernas. Caminhões para descarregar. A Loja quase sempre cheia de gente. Quantas chuvaradas. Quantas manhãs frias. O comércio é para fortes! O balanço anual era a semana mais trabalhosa. Num ambiente de união, com o lápis na orelha e trajes simples, tinha que somar tudo.
………Um homem insatisfeito acusou o Gerente de ladrão. O Pai, devoto de Santo Antônio, ficou furioso. A honestidade era um valor supremo! Outro dia triste foi aquele em que os ladrões mataram, à noite, na hora do jantar, dois fregueses da Loja, o casal Tártaro. Crime bárbaro!
………Nas noites de outono, quando eu dizia que iria à Loja buscar uma lata de compota, percebia a alegria no rosto dos meus familiares. A nossa vida era abençoada, feita de pequenas coisas… e de outras nem tão pequenas.
………A melancia das 4 horas, o churrasco dominical de ovelha, o Pai feliz numa ponta da mesa (orando antes da refeição), o olhar atento da Mãe, o sonho e o pastel do Clube Harmonia, os pinhões do fogão à lenha, a visita afetuosa dos parentes, o respeito dos fregueses, a presença do Santo Antônio, a uva madura, o chocolate com bolacha, as caixas de brinquedos vindas da Capital, a colheita dos abacates, as histórias do Nono Gava, o Fusca branco, o Corcel azul, o gato branco e preto, o cachorrinho preto…
………Ter onde buscar, quando tantos passam fome! Ter como pagar, quando outros tantos morrem de fome! Oh! Grande felicidade! Tu sabes colocar um sorriso no rosto do homem justo! Não permitas que o tempo leve embora as coisas pequenas que amamos! Obrigado, Casa Santo Antônio!
por CFVOGT em 2.5.19