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sexta-feira 3 maio 2024
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Leonardo Sakamoto responde as acusações

Quatro dedos

Sou acordado por uma amiga que me pergunta se tenho apenas quatro dedos na mão esquerda em homenagem ao Lula. A ressaca do Natal fez com que eu demorasse para entender. Rindo, ela me manda este meme. 
Fiquei triste. Porque continuam usando fotos de uma época em que eu estava gordinho. Cadê o respeito? A dieta foi tão difícil, 16 quilos…


Há algumas semanas, sites de extrema direita, fundamentalistas religiosos e de apoio à polícia militar começaram uma campanha para colar em mim a pecha de mercenário. Ou seja, de que aluguei a caneta para o governo. 

Pergunta pro governo o que ele acha disso kkkkkkkkkk. 
Para tanto, dizem que a parte dos recursos que a Repórter Brasil – organização que coordeno e que é considerada uma das mais importantes no combate ao trabalho escravo no Brasil (viiiiiixe!) – recebe de editais públicos federais é usada para defender o governo. 
Se eu fosse um mercenário e tivesse que defender esse governo que pouco respeita os direitos humanos dos povos do campo e da periferia das grandes cidades em nome do “progresso”, teria que ganhar dezenas de milhões. Porque seria caro o trabalho de convencer do contrário (risos).
Amores, entendam de uma vez por todas: ser de esquerda não é ser governo. Por uma razão simples: este governo não é de esquerda rs. 
Na verdade, os recursos foram destinados ao nosso programa “Escravo, nem pensar!”, que atua há dez anos na prevenção ao trabalho escravo junto a professores, crianças e jovens através de educação em mais de 120 municípios do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, beneficiando mais de 100 mil pessoas. O programa é considerado referência mundial pelas Nações Unidas. Para saber mais, clique: www.escravonempensar.org.br
Adoraria que a nossa organização recebesse um milhão por ano em editais do governo como alguns estão dizendo ou mesmo que recebesse recursos de lá todos os anos. Dessa forma impediríamos muitas crianças de se tornarem escravas no futuro, como já fazemos. Na verdade, recebemos pouco mais de um milhão no total de convênios com governos, ONU, fundações nacionais e estrangeiras – a lista tá no site – o que é pouco para nossas atividades. 
A ministra dos Direitos Humanos assinou o contrato porque é ela quem assina todos os contratos (dãããã), mas o projeto foi escolhido após seleção pública de projetos, com destinação controlada e severa prestação de contas. Daí, tenho que ouvir a pergunta: ah, mas foi por isso que você criticou o deputado Bolsonaro quando ele disse que Maria do Rosário não mereceria ser estuprada? Really… Quem diz uma coisa dessas merece um calmante rsrs.
Mas por que ONGs recebem dinheiro público? Porque organizações da sociedade civil são responsáveis por executar parte das ações que o Estado não consegue e desenvolver políticas de vanguarda para ser reproduzida em escala pelo próprio Estado. Edital público é diferente de publicidade estatal. 
Mas como você é remunerado pelo seu blog? Pelo UOL, ué. 
Por isso, dizer que recebo recursos de um edital público do governo com o objetivo de defender o governo é declaração passível de processo judicial  
Interessante que tudo isso teve um efeito colateral inesperado: aumentou a quantidade de pessoas físicas que doam recursos para a Repórter Brasil tocar suas atividades – o que me deixou muito feliz. 
Então, doem para a Repórter Brasil e ajudem não só a combater o trabalho escravo mas também a garantir dignidade aos trabalhadores do Brasil! 
Somos corresponsáveis por uma série de conquistas, como o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (que reuniu mais de 400 empresas, 30% do PIB nacional, para combater esse crime pelo viés econômico); o II Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo; pela aprovação de uma série de leis, como a PEC do Trabalho Escravo; por garantir melhorias na vida dos trabalhadores em frigoríficos e na cana de açúcar; por fazer com o que tema do trabalho escravo e do tráfico de pessoas fosse popularizado no país. 
Muito já foi feito, mas muito ainda precisa ser feito


Leonardo Sakamoto.



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