APM/RS – REFLITA
Qual a nossa culpa?
Em meados de 1979, já havia passado uma década da promulgação da constituição Federal. Não lembro dos nomes dos Presidentes militares sem recorrer aos livros de história. Quando ingressei nas fileiras da Polícia Militar, a constituição Federal já tinha anos. Não participei de torturas, não sei o que é DOIPOD, DOPS (se é que escrevi certo), não sei onde fica o Araguaia.
Então, por que somos tão discriminados pela sociedade, pela imprensa e, até mesmo, pelo poder público?
Por que fomos excluídos do Art. 5• da Constituição que trata dos direitos e garantias fundamentais do Cidadão?
Acaso não temos direito a liberdade, propriedade e ao tratamento igual, como qualquer cidadão, já que temos muito mais deveres que os demais?
Que culpa temos pelos desmandos de quem não caminha mais sobre a terra? Atendemos milhares de ocorrências diárias em todo o Brasil. Por que a imprensa só enfatiza os nossos erros?
E os roubos evitados, as pessoas socorridas, os estupradores e homicidas presos.
Numa realidade em que furto é tratado como crime de menor potencial, a população clama pela liberação de drogas ilícitas, menores não são julgados na mesma proporção da brutalidade dos seus crimes, a igreja defende invasões de terras por todo o Brasil.
Em contra partida, os mesmos menores podem escolher governantes, a igreja usa de sua influência com os fiéis para eleger quem represente seus interesses, a população cobra melhorias, que nunca vêm, do poder público, o tribunal de contas pericia mas, não pode decidir, o STF se mete a legislador, o executivo quer governar por decreto e o legislativo edita leis que garantem a anarquia.
Diante desse processo, está a pobre Polícia Militar. Com todas as obrigações e limitações que a Lei lhe impõe.
Qual a nossa culpa?
A esmagadora maioria dos policiais militares não compartilha dos abusos de alguns elementos infiltrados no nosso meio.
Você que acha que somos semi-analfabetos, temos pessoas com as mais diversas formações acadêmicas, inclusive com mestrado e doutorado, em nossos quadros.
Você estudante de direito que se acha muito safo, tem recebido aulas de muito soldado da PM aí na sua faculdade.
Você empresário, que quando é abordado acha que tem mais direitos do que os outros cidadãos.
Você é como qualquer do povo, não nos interessam suas posses, nem estamos distribuindo currículo.
Você desocupado, que fica esbanjando o que seus pais acumularam a vida toda, essa de perguntar “você sabe quem é meu pai”, quando é abordado, não cola. Por acaso você sabe quem é o meu?
Senhores representantes do povo, olhem por nós.
Nos deem mais cidadania. Reformem essa legislação caduca. Reformem nossos currículos.
Aposentem esse regulamento disciplinar caduco e desumano. Nos proporcionem mais oportunidades de capacitação técnica e intelectual. Nos contemplem com todos os direitos e garantias do artigo 5• da Constituição.
Também somos trabalhadores, porque não nos são oferecidos os direitos do Artigo 7• da Lei maior?
Num país onde o efetivo das forças armadas é irrisório, somos a garantia da defesa nacional. Porém, somos tratados de maneira vingativa por todos os setores da sociedade.
Nossa sociedade já chegou ao fundo do poço. Mas, parece que não satisfeita com a profundidade, cava ainda mais.
Apenas estão cansadas, falta o fôlego. Mas, temos que seguir em frente.
Qual a nossa culpa?
Você acha que é fácil. Vem aqui.
Pega a farda e o armamento, e vai fazer melhor.
FORÇA e HONRA!
Ass: Dalvani Albarello
Presidente APM/RS