Em uma sessão marcada pela expectativa em torno da decisão de política monetária do Federal Reserve, o Ibovespa operou ao longo da tarde sob forte influência das oscilações dos índices em Wall Street. Em um primeiro momento, houve certa decepção com o comunicado do BC americano, que não se comprometeu com uma sequência de cortes de juros. Em meio ao aprofundamento das perdas em Nova York, o Ibovespa chegou a operar pontualmente abaixo dos 104 mil pontos e desceu até mínima dos 103.684,12 pontos.
Declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, porém, trouxeram certo alívio. Com a virada do índice Dow Jones para o terreno positivo, o Ibovespa praticamente zerou as perdas e fechou aos 104.531,93 pontos (-0,08%). Como esperado pela ala majoritária do mercado, o Fed reduziu a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, para uma faixa entre 1,75% e 2,00%. A decisão não foi unânime. Dois dirigentes votaram por manutenção e um por um corte de 0,50 ponto.
Para Vitor Péricles de Carvalho, estrategista da LAIC-HFM Gestão de Recursos, o tom do comunicado levemente mais hawkish e previsão de apenas mais uma redução de 0,25 ponto dos juros neste ano assuntaram um pouco os investidores, que esperam sinais mais claros sobre o grau de afrouxamento monetário. “Powell mostrou que o Fed está totalmente ‘data dependent’ e continuará com esse tom de ajuste pontual, de acordo com os indicadores”, afirma Carvalho, ressaltando que a incerteza sobre o ritmo desaceleração da economia americana, em meio à guerra comercial com a China, é muito elevada.
Por aqui, a expectativa majoritária do mercado era que o Copom anunciasse nesta noite nova redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 5,50% ao ano – o que se confirmou à noite -, e deixasse a porta aberta para, pelo menos, mais uma redução. Uma ala relevante de economistas já trabalha com a possibilidade de Selic abaixo de 5% no fim do ano. Na expectativa de mais afrouxamento monetário, as ações de varejistas tiveram mais um pregão positivo.
Operadores destacam que a queda dos preços internacionais do petróleo e a baixa do minério de ferro levaram os papéis de Petrobras e Vale, respectivamente, a quedas superiores a 1%, o que limitou o fôlego do Ibovespa.
Dólar
A reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que cortou os juros, mas sem consenso de todos os dirigentes, e as declarações do presidente da instituição, Jerome Powell, que não se comprometeu com mais reduções de juros pela frente, fortaleceram o dólar no mercado financeiro internacional e o reflexo aqui foi imediato. A moeda americana acelerou a alta e chegou a ser cotada a R$ 4,11 na máxima do dia, logo após a reunião. Em seguida, a valorização perdeu um pouco de força, mas a moeda acabou encerrando em alta de 0,65%, a R$ 4,1036.
As projeções dos dirigentes do Fed apontaram para mais um corte de juros este ano, mas não mostram novos recuos em 2020. Na entrevista à imprensa, Powell disse que o Fed é “dependente de indicadores” e que, se a economia americana diminuir o fôlego, cortes mais agressivos podem ser apropriados. O economista do TD Bank, James Marple, avalia que o fato de a decisão de cortes de juros não ter sido por unanimidade sinaliza o “elevado nível de incerteza” sobre a visão do Fed para a economia americana. Dois dirigentes defenderam manutenção da taxa de juros, enquanto outro queria um corte maior, de 0,50 ponto. A maioria optou por uma diminuição de 0,25 ponto. Por aqui, o Banco Central cortou a taxa em 0,50 ponto, para 5,5% ao ano.
Para o economista do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC), Avery Shenfeld, o Fed fez um “corte de juros hawkish”, ou seja, sem sinalizar movimentos mais duradouros pela frente e ainda com votos dissidentes. Já a declaração de Powell de que pode antecipar o aumento do balanço da instituição é um indício de que um novo programa de compras de ativos está a caminho, expectativa que vem crescendo em meio aos problemas de liquidez no mercado de títulos de curto prazo dos EUA.
Para os estrategistas do banco Credit Suisse, o Fed cortou juros, mas o conjunto de informações ficou aquém do que o mercado esperava, por isso o fortalecimento do dólar. “A reunião mostrou um Fed dividido, não convencido de que cortes adicionais são necessários”, escrevem em relatório na tarde desta quarta-feira. Com isso, o dólar subiu forte ante divisas fortes, sobretudo o euro, e operou misto ante emergentes, caindo ante divisas como Rússia, África do Sul e Colômbia, e subindo no México.
Taxas de juros
A chamada “Super Quarta” terminou com os juros futuros estáveis ante os ajuste anteriores. As taxas passaram o dia oscilando entre a estabilidade e viés de baixa, inclusive após a divulgação do comunicado do Federal Reserve e durante a entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell, eventos que não provocaram reação expressiva nos ativos de renda fixa local.
As taxas futuras de médio e longo prazo, que mostravam ligeira queda antes do Fed, chegaram a tocar pontualmente as máximas perto da estabilidade após a entrevista de Powell, a reboque da piora nos mercados de moedas emergentes e de um estresse nas T-Notes de curto prazo, mas nada significativo.
Já os juros curtos percorreram a sessão de lado, refletindo o compasso de espera pela sinalização do comunicado do Copom no começo da noite, uma vez que o consenso em torno do corte de 0,50 ponto porcentual da Selic seguiu intacto e se confirmou no início da noite. No fechamento da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020, que melhor reflete as apostas do mercado para as decisões do Copom em 2019, estava estável ante o ajuste de terça, a 5,185%. A do DI para janeiro de 2021 terminou em 5,220%, de 5,208%, e a do DI para janeiro de 2023 fechou em 6,27%, mesmo nível do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,83%, de 6,841%.
Apesar da movimentação restrita das taxas, a liquidez foi elevada nos principais contratos, refletindo o ajuste de posições para as principais decisões de política monetária da semana nesta quarta-feira: Fed e Copom. O Fed endossou a aposta majoritária do mercado de queda de 0,25 ponto porcentual nos fed funds, para a faixa entre 1,75% e 2,0%, mas o comunicado mostrou falta de consenso entre os dirigentes para os próximos movimentos, o que trouxe algum incômodo. “O gráfico de pontos é ‘surpreendente’ e indica ‘divisões claras’ entre os dirigentes, diz o economista-chefe Pantheon Macro, Ian Shepherdson.
Na sequência do comunicado, veio a entrevista de Powell, durante a qual o rendimento da T-Note de dez anos chegou a acelerar o ritmo de alta e o dólar foi para as máximas, firmando-se acima dos R$ 4,10 no Brasil. Houve alguma pressão sobre a curva doméstica, que apagou o viés de baixa que predominava desde o começo da tarde.
Correio do Povo