Técnico foi demitido depois de comandar o clube por cinco jogos
Falcão analisou período que comandou o Inter em 2016 | Foto: Ricardo Duarte / Inter / Divulgação / CP
O técnico Paulo Roberto Falcão ficou menos de um mês no comando do Inter em 2016. Contratado após a saída de Argel, o ídolo colorado disputou cinco partidas e conquistou apenas dois pontos na campanha que culminou com o rebaixamento do clube para a Série B. Entrevistado pela Rádio Guaíba, Falcão falou sobre o período em que esteve à frente do grupo e apontou problemas na gestão comandada por Vitório Piffero. Ao longo da conversa, citou o termo “amadorismo” inúmeras vezes.
“Não existe só um motivo (para a queda). São vários. Quando vai buscar um objetivo, tem que ter planejamento, organização, critério. Pensar no produto que você tem na mão e blindar contra o que vem de fora. Para isso, você precisa ter conhecimento e ser do ramo. Tem que ter consistência e saber como as coisas funcionam no mundo de futebol”, afirmou. “Tem que conhecer. Isso não é para amador, né?”.
Falcão lembrou que disse em entrevista em 2011 que o Inter precisava se qualificar. “A gente precisa conhecer. Quando se ganha, as coisas não são relatadas. Te digo isso dentro dos meus 50 anos de futebol, não conheci nenhum time que não tenha problemas de vestiário mesmo ganhando. Mas isso não importa”, destacou. “O futebol está cheio de ilusões. Dar balão para frente é uma ilusão de 10 segundos, porque a bola vai e volta. Ilusão de que o treinador precisa ficar na frente do banco gritando, saltitando e chutando. Mas aqui tem essa cultura que tem que viver ali, encarnar. Que são amadoras”, destacou.
Para Falcão, o profissional precisa olhar o jogo e ter a capacidade e discernimento. “Treinador não pode torcer. Ou ele vê o jogo ou torce”, afirmou. “O futebol tem que ser jogado. Para ganhar, é preciso ter consistência”, afirmou.
“Quando eu saí, tinha um turno todo pela frente. Naqueles cinco jogos que fiquei, que era um caroço, Palmeiras, Corinthians e Cruzeiro, eu sabia qual time emocionalmente eu tinha. Quais jogadores eu podia contar nas dificuldades, quem era comprometido. Tinha conhecimento de quem não tinha comprometimento da causa”, disse.
Falcão lembrou que pediu uma avaliação do perfil emocional do grupo de jogadores e que teve o resultado dias antes da partida contra o Fluminense, que culminou com sua demissão. “Ia começar a montar o time a partir disso”, ressaltou.
Para Falcão, “o futebol não é difícil de administrar, difícil é o periférico”. “A torcida, a imprensa, o conselheiro que dá um pitaco, isso tá fora do teu controle. Mas, infelizmente, entra dentro do clube”, afirmou.
Demissão
Falcão afirmou que assumiu o Inter para ajudar num momento de dificuldade e que seria muito mais fácil não voltar ao clube. “Argel tentou fazer o que foi possível. Mas as vezes tu tenta e não dá. Mas eu não tive essa chance. Fiquei cinco jogos. Parece brincadeira. Ou você não tem critério quando contrata ou não tem quando demite”, afirmou. “Na hora que você contrata um profissional, você tem que tirar tudo que quiser dele antes de contratar. Depois de cinco, seis meses, as coisas não aconteceram, pode até se repensar. Quando você tem que demitir dois, três treinadores, fica uma coisa muito complicada”, destacou.
Questionado sobre a entrada de Fernando Carvalho e Ibsen Pinheiro após sua demissão, Falcão disse desconhecer se sua saída foi imposta pelo grupo. “Fernando (Carvalho) é meu amigo e a gente diverge apenas na maneira de entendimento de futebol. O que não é um problema. Fui colocado para dar uma acalmada no torcedor. Nesse momento, houve uma troca porque o Fernando também tem um grande prestígio com a torcida”, destacou.
“As coisas são muito difíceis quando você analisa a questão muito amadoristicamente. Isso causou um dano na minha atividade profissional. Ficar 25 dias sem nenhuma explicação. Ficar sem Danilo Fernandes, William, Dourado, Ceará e Nico Lopez. Dificuldades que não foram contextualizadas”, lembrou.
Falcão citou também os reforços que solicitou para o Inter. “Pedi o argentino Demichelis para a defesa. Os laterais Carlinhos, do São Paulo, e Madson, do Vasco, e o volante Eduardo, que chegou depois”, afirmou.
O treinador evitou críticas aos jogadores do Inter e elogiou a postura dos atletas durante os treinamentos. “Precisa ver o que eles trabalhavam, treinavam e se dedicavam. Ninguém sofre mais do que os jogadores. Eles têm família, têm que levar filho na escola, têm que sair, fazer as coisas. Isso poucas pessoas sabem”, afirmou. “Eu sentia que o time ia crescer. Precisava de um pouquinho mais de tempo”, disse.
Correio do Povo