Cremers debateu problemas da categoria e avaliou que menos da metade das universidades têm hospitais-escola próprios
Representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) se reuniram, nesta quinta-feira, em Porto Alegre e trataram dos principais problemas enfrentados pela categoria. A abertura indiscriminada de vagas em cursos de medicina, a falta de estrutura para atendimento médico e o exercício ilegal da profissão — principalmente em intervenções de melhoria estética — foram os temas discutidos.
Ao alertar para a formação em massa de médicos, o presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade explica que o Estado conta atualmente com 20 faculdades de medicina. Ele reforça que menos da metade têm hospitais escola e, em função disso, “não tem como formar bom médico sem hospital universitário adequado”. “Algumas universidades no interior ficam pegando leitos de hospitais de pequeno porte, que não fazem procedimento nem de média complexidade, para garantir esses leitos para poder abrir a faculdade. Infelizmente, vamos formar contingente grande de maus profissionais”, projeta.
De acordo com Trindade, está ocorrendo a precarização do ensino médico. O objetivo do encontro com o presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, é alinhavar ações para ampliar a fiscalização das escolas médicas e cobrar do Ministério da Educação (MEC) o cumprimento da moratória feita no final do governo Michel Temer, que determinava que nos próximos cinco anos não seriam abertas novas faculdades de medicina. “A simples existência do médico não vai reduzir a fila de atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). A presença do médico numa cidade de 2 mil habitantes, se não tiver uma estrutura minimamente hierarquizada, não vai adiantar nada”, frisa.
Na avaliação de Ribeiro, a criação do Médicos pelo Brasil – que prevê 18 mil vagas em regiões onde há maior carência de médicos no país – pode corrigir distorções do programa Mais Médicos, lançado no governo Dilma Rousseff. Além de criticar o excesso de escolas de medicina, ele lembra que atualmente existem 466 mil médicos. “Em 2019, formamos 25 mil médicos no Brasil. Daqui a oito anos vamos estar formando 35 mil médicos no Brasil”, compara. Ribeiro projeta que em 40 anos serão 1,5 milhão o número de profissionais da medicina para uma população de 240 milhões habitantes. “Aproximadamente 50% não vai ter residência médica. É uma catástrofe do ponto de vista da profissão e do ponto de vista de assistência à população. Eu vou estar morto, mas nós temos que desarmar essa bomba agora”, justifica.
Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia/regional RS, Taciana Dal’Forno Dini afirma que muitos procedimentos invasivos são realizados por pessoas sem formação médica. Ela alerta que muitos pacientes estão sendo atendidos em consultórios e pronto socorros em decorrência de complicações de intervenções efetuadas por profissionais que exercem ilegalmente a profissão. “Pela lei do Ato Médico, só médicos podem fazer um procedimento mais invasivo seja diagnóstico, terapêutico ou até estético. O que está acontecendo é que essas pessoas estão fazendo esses os procedimentos invasivos como toxina botulínica, preenchimento, lasers muitas vezes fracionados, e estão acontecendo complicações”, afirma.
O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular/regional RS, Régis Fernando Angnes, ressalta que muitos casos considerados simples podem se transformar em problema maior, como a secagem de varizes. “Isso tem que ser feito por um cirurgião vascular, formado, com titulação, porque às vezes não é só secar os vasinhos. Tu olha aqueles vasinhos da perna e a pessoa tem outra patologia, tem falta de irrigação na perna. E ela vai fazer secagem do vasinho com profissional não médico, não cirurgião vascular, vai fazer um procedimento que acaba abrindo uma ferida, uma úlcera, e vai ter complicação maior”, destaca.
Por-Felipe Samuel
Correio do Povo