


Foto: Win McNamee e Pablo Porciuncula / AFP

A quarta-feira foi marcada por tensão entre Brasil e Estados Unidos, após o presidente norte-americano publicar em sua rede social publicou, Truth Social, uma carta destinada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta, comunica a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano a partir de 1º de agosto.

Em resposta, o governo federal realizou uma reunião emergencial no Palácio do Planalto para debater a decisão de Trump. Mais tarde, pela rede social X, Lula disse “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.”
Citação a Bolsonaro
Na carta enviada a Lula, Trump cita o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O Republicano afirma que o País faz com Bolsonaro uma “caça às bruxas” o que seria “uma vergonha internacional”.

O ex-presidente é alvo de processos no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe. Além disso, Bolsonaro se tornou inelegível até 2030 após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros, em 2022.
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Mais cedo, o governo brasileiro convocou o representante comercial dos Estados Unidos para cobrar explicações sobre o apoio da embaixada americana no discurso por Bolsonaro.

Lula em sua manifestação na noite desta quarta ressaltou que “o processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais.”
Suposta Censura
Em seu comunicado, Trump ainda citou suposta censura nas redes sociais como um dos motivadores para taxar o Brasil. Lula rebateu a fala do presidente dos EUA afirmando que, no Brasil, a “liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas” e que, para operar no Brasil, empresas são submetidas à legislação.
Déficit norte-americano
Na justificativa para a taxação, Trump cita um suposto déficit norte-americano na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos. Lula rebateu com dados oficiais: “É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos EUA comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos.”

Taxação preocupa entidades
O anúncio da taxa de 50% na importação de produtos brasileiros nos EUA a partir de agosto preocupa entidades de diversos setores. A Câmara Americana de Comércio para o Brasil, Amcham, expressou em nota ‘profunda preocupação’ sobre a tarifa de 50% que o governo dos Estados Unidos promete aplicar sobre produtos do Brasil.
A câmara de comércio, que reúne multinacionais com operações nos dois países, conclamou os dois governos a retomarem urgentemente o diálogo em busca de uma solução negociada. “Trata-se de uma medida com potencial para causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países”, ressalta a Amcham em seu posicionamento, que lembra da forte complementaridade do comércio de bens entre os países.
Já a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) disse receber com “surpresa e preocupação” a taxação de 50% para todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. O presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira, classificou a medida como “um grande balde de água fria para o setor calçadista brasileiro”.
A associação lembra que, em junho de 2025, o segmento registrou alta de 24,5% nas exportações ante igual mês do ano passado.
O resultado foi impulsionado pelos Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras do setor, com crescimento de quase 40% no mesmo comparativo. “No primeiro semestre, estávamos, aos poucos, recuperando mercado, apesar de todas as instabilidades”, afirmou Ferreira.