Legisladores não mostraram apoio à manutenção de um acordo alfandegário com a União Europeia
O Parlamento do Reino Unido rejeitou em votações nesta segunda-feira todas as alternativas para a saída do país da União Europeia, o Brexit. Os legisladores não mostraram apoio à manutenção de um acordo alfandegário com a União Europeia, a um mercado único, a uma segunda votação popular sobre o tema e nem ao próprio cancelamento do Brexit. Com isso, segue o impasse em relação ao tema. A previsão atual é que a saída do Reino Unido da União Europeia ocorra em 12 de abril.
Foram elas: deixar o bloco, mas permanecer em união aduaneira com a UE, manter também o país dentro do mercado único europeu, organizar um segundo referendo ou simplesmente revogar todo o processo, se não for alcançado um acordo. Mas nenhuma conseguiu mais votos “sim” que “não”, como já tinha acontecido em uma primeira rodada indicativa organizada na quarta-feira passada.
“Esta é a segunda vez que a câmara considera opções sobre o caminho a seguir e mais uma vez não encontrou maioria para qualquer das propostas”, afirmou o ministro do Brexit, Stephen Barclay. Ele lembrou que na falta de um acordo, “a posição legal por default é que o Reino Unido abandone a UE em apenas 11 dias” de forma brutal. Por isso, pediu que os deputados aprovem o texto negociado por May – que já foi rejeitado três vezes. “O governo continua pensando que o melhor é fazê-lo o quanto antes”, acrescentou. O eurodeputado liberal belga Guy Verhofstadt, responsável pelo Brexit no Parlamento europeu, tuitou nesta noite que um Brexit sem acordo é “quase inevitável”.
Espetáculo lamentável
Frustrado pela incapacidade dos deputados de seu Partido Conservador de fazer concessões para tirar o país do caos, o conservador Nick Boles, um dos artífices das infrutíferas “votações indicativas”, anunciou com lágrimas nos olhos que estava abandonando o grupo parlamentar. O conselho de ministros se reunirá nesta terça-feira para discutir o resultado dessa votação para decidir se acredita que seja possível convocar na quarta ou quinta-feira uma nova votação do impopular acordo negociado com Bruxelas, que os parlamentares já rejeitaram três vezes: na sexta-feira passada, em 12 de março e em 15 de janeiro.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou no domingo que a União Europeia tem “muita paciência com nossos amigos britânicos, mas a paciência está se esgotando”. “Eu gostaria que dentro de algumas horas ou de alguns dias o Reino Unido chegasse a um acordo sobre os passos a seguir”. “Até agora sabemos para o que o Parlamento britânico diz não, mas não sabemos para o que diz sim”, acrescentou.
Sobre a possibilidade de um novo referendo, Juncker considerou que essa questão “diz respeito exclusivamente aos britânicos (…) Devem decidir quais instrumentos empregarão para terminar este processo”. Aos eurodeputados, May assegurou na sexta-feira que continuará a “advogar por um Brexit ordenado”, mas também reconheceu a necessidade de se chegar a um acordo sobre um “caminho alternativo”.
Segundo vários jornais britânicos, Downing Street planeja propor aos deputados uma única escolha: ou votam o acordo de May ou um projeto alternativo que angariar o apoio dos deputados na segunda-feira e que favoreceria um Brexit mais suave que o texto atual.
A chefe de Governo espera convencer os eurocéticos do seu partido conservador a aprovar o acordo de retirada, que eles rejeitam até agora porque consideram que não corta os laços suficientes com a UE. Sem um acordo aprovado pelo Parlamento, um “no deal” (saída sem acordo) em 12 de abril, hipótese ção que preocupa os meios econômicos, continua a ser o cenário mais provável, advertiu May.
Para evitar a saída abrupta, May poderá se resignar a pedir um novo adiamento, de duração mais longa, mas que a forçaria a organizar eleições europeias no final de maio. Uma cúpula europeia especial foi convocada para 10 de abril. De acordo com o tabloide The Sun, 170 deputados conservadores, incluindo uma dúzia de ministros, escreveram à chefe de governo para exigir que o Reino Unido saia rapidamente da UE e não participe nas eleições europeias em maio.
Correio do Povo