Comboio das Forças Armadas, que coincide com análise do voto impresso, gerou reação do Congresso por suposta intimidação
Após a repercussão de um desfile militar em frente à Esplanada no dia em que a Câmara analisa a PEC do voto impresso, nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) postou no Facebook um “convite”, na noite desta segunda, para que os presidentes do Congresso e dos tribunais superiores participem do evento, no início da manhã. Ao fim do texto, ele se declara “chefe supremo das Forças Armadas”, enquanto, nos comentários, centenas de apoiadores fazem alusões à intervenção militar.
O chamamento ocorre em meio à crise entre os Poderes gerada pelas críticas do presidente ao sistema eleitoral, que, segundo ele, pode ser fraudado e manipulado. A ausência de provas e as ofensas a dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) levaram o presidente da Corte, Luiz Fux, a cortar o diálogo com o Planalto.
A pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o STF também já incluiu Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news em razão da uma live em que repetiu denúncias já desmentidas sobre a suposta manipulação de resultados de eleições anteriores. Hoje, o TSE enviou mais uma notícia-crime ao STF alegando que Bolsonaro divulgou, indevidamente, trechos de um inquérito sigiloso sobre o um ataque hacker ao sistema eleitoral, em 2018.
“Sr. Presidente do … STF, Câmara Federal, Senado, TCU, TSE, STJ, TST, Deputados, Senadores… :
Como ocorre desde 1988, a nossa Marinha realiza exercícios em Formosa/GO. Como a tropa vem do Rio, Brasília é passagem obrigatória. Muito me honraria sua presença amanhã na Presidência (08h30), onde receberei os cumprimentos da Força e lhes desejarei boa sorte na missão”, escreveu Bolsonaro, na postagem.
Com as seguidas ameaças do presidente às eleições, condicionando o pleito à aprovação do voto impresso pelos parlamentares, o anúncio do desfile gerou reações fortes no Congresso. Alguns, inclusive, entraram na justiça para impedir o comboio, ao qual viram como instrumento de intimidação do presidente.
O voto impresso sofreu duas derrotas em uma comissão especial do Congresso, de caráter consultivo, na semana passada. A proposta deve ser analisada pelo plenário nesta terça-feira, mesma data em que o comboio da Operação Formosa passa em frente ao Palácio do Planalto. Nessa manhã, o próprio Bolsonaro reconheceu, em uma entrevista de rádio, que a PEC deve ser rejeitada e acusou o presidente do TSE e ministro do STF Luiz Roberto Barroso de “apavorar” os líderes de partido para derrubar a proposta de acoplar impressoras às urnas eletrônicas já no pleito de 2022.
Os militares, que negaram relação entre a PEC e o desfile, dizem que entregarão em mãos a Bolsonaro e ao ministro da Defesa, Braga Netto, convites para a demonstração da operação, a ser realizada na segunda-feira que vem, 16.