Barreiras comerciais voltarão a ser erguidas com custos de 5,6 bilhões de libras anuais, segundo a OMC
Foto: Adrian Dennis / AFP / CP
A saída do Reino Unido da UE significa uma imersão no desconhecido para sua economia, que poderá transformar a incerteza em aumento do desemprego e deterioração da imagem “Made in Britain”.
Os partidários da permanência da União Europeia escolheram a economia como seu argumento principal de campanha, mas isso não foi suficiente: o Reino Unido agora terá que enfrentar as consequências da decisão de romper com Bruxelas. Por enquanto, é só uma tempestade financeira que cobre a City de Londres, mas a saída da quinta economia do mundo do bloco europeu terá um impacto global.
A horas da abertura das bolsas europeias, a de Tóquio caiu mais de 8% e a libra sofreu uma desvalorização de mais de 10%, aproximando-se da queda de 15% prevista por George Soros. A queda que poderá igualar a libra ao euro, tão criticado pelos partidários do Brexit.
Espera-se que o impacto econômico seja grande e duradouro. Os especialistas estão divididos sobre os riscos, mas concordam que haverá consequências negativas.
O governo britânico advertiu que podem ser necessários cerca de dez anos para se desvincular da atual relação com a UE e completar todos os acordos comerciais alternativos. Londres espera “um longo período de incerteza” com “consequências para as empresas britânicas, para o comércio e para a atração de investimentos”.
As barreiras comerciais voltarão a ser erguidas durante este período, com custos de 5,6 bilhões de libras anuais (7,2 bilhões de euros) em tarifas, segundo a Organização Mundial de Comércio. Além disso, “muitas empresas estão utilizando o Reino Unido como porta de entrada para a Europa e algumas advertiram que transfeririam sua sede europeia em caso de Brexit”, lembrou Scott Corfe, diretor do Centro de pesquisa econômica e empresarial, que espera uma queda do investimento da China e dos Estados Unidos.
Muitos votaram a favor do Brexit atraídos pelas promessas de reduzir a imigração. Se a promessa for cumprida, se reduzirá a mão de obra do leste europeu e do sul, que ajudou a movimentar a economia nos últimos anos.
“Made in Britain”
Ao final, o crescimento dinâmico dos dois últimos anos pode desacelerar, e o FMI prevê uma recessão econômica no Reino Unido para o ano que vem, provocando um aumento do desemprego dos 5% atuais para 6,5% em dois anos.
Isso reduziria as receitas fiscais. O Instituto de Estudos Orçamentários (IFS) prevê que os cofres públicos deixarão de receber entre 20 bilhões e 40 bilhões de libras até 2020, já descontados os recursos Londres enviava a Bruxelas.
A City de Londres poderá perder seu atrativo: os bancos temem perder o direito a vender sem impedimentos seus serviços financeiros aos Estados Unidos e aos países da UE.
O banco britânico HSBC, e os americanos JP Morgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs prevem transferir para outros países milhares de empregos. O distrito financeiro poderá perder até 100 mil postos de trabalho, segundo a TheCityUK.
Setores industriais como o aeroespacial e o automobilístico sofrerão com as novas barreiras tarifárias, enquanto que a indústria da construção já não poderá recorrer à imigração.
Para além disso tudo, a marca “Made in Britain” poderá ver-se prejudicada. “Além do Brexit, a gente já se imagina em um novo referendo de independência na Escócia. O Reino Unido não parece tão seguro como antes”, opinou Scott Corfe.
Correio do Povo