Crise do RS resulta em discussão política e bate-boca na CCJ da Câmara dos Deputados
Ministro extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta e deputados da oposição trocaram acusações
Inicialmente a presença do ministro extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados era para falar sobre o uso da PF contra opositores ao governo na tragédia do RS, porém, a reunião, na tarde de ontem, tornou-se, em vários momentos, palco para discussões políticas, trocas de acusações e bate-boca generalizado. A sessão foi um pedido do deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP).
Por mais de 20 minutos, Pimenta falou sobre as ações e os investimentos do governo federal e, por fim, listou uma série de fake news sobre a tragédia, entre elas a de que doações estavam sendo estocadas em depósitos da Defesa Civil e que aviões com donativos estavam sendo proibidos de pousar na Base Aérea de Canoas.
Logo em seguida, Bilynskyj, primeiro a se manifestar, pediu que Pimenta respondesse “no modelo de verdade ou mentira”, se ele havia utilizado aviões do Exército para se deslocar junto da sua esposa. Em resposta, o ministro confirmou que sim, havia viajado junto de sua esposa, “a minha delegação sou eu quem faço”, afirmou, dando a entender que ele teria uma relação respeitosa como é casado – diferente do deputado.
O caos se formou logo em seguida. Bilynskyj, exaltado, acusou Pimenta de ter uma “moral de esgoto” e um bate-boca entre oposição e base foi suprimido pela presidente da Comissão, deputada Caroline de Toni (PL-SC). O mesmo “modus operandi” seguiu em quase todas as perguntas feitas ao ministro que partiram de deputados da oposição. Gilvan da Federal (PL-ES) chegou a falar que a jaqueta da Defesa Civil, que Pimenta estava usando, era “ridícula”, fazendo ataques pessoais ao presidente Lula (PT) e ao próprio ministro, que afirmou que o mesmo “deveria estar preso”. Pimenta respondeu que o uso da jaqueta é uma homenagem aos trabalhadores da Defesa Civil e que o deputado era “uma vergonha para essa Casa, para o seu Estado e para o Brasil”.Acusações e ataques também partiram do ministro, que, ainda na resposta a Gilvani, falou que nunca tinha feito “rachadinha” e que não era “o senador Flávio Bolsonaro que faz rachadinha. O senhor olhou para mim e lembrou dele, está do lado do irmão dele”. A fala gerou burburinho entre os deputados e rendeu ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) um direito de resposta.Em determinado momento da sessão, após o deputado Marcos Pollon (PL-MS) se referir a Pimenta como “ministro montanha”, em referência a um suposto apelido do ministro durante investigações da Lava Jato. A presidente interveio entre a discussão de deputados da base – que pediam respeito – e a da oposição – que exigiam a “liberdade de expressão e imunidade parlamentar”.
“O ministro compareceu voluntariamente e pediu para ser respeitado, peço que mantenham o respeito. Se o ministro se sentir injuriado pode levantar e ir embora”, afirmou De Toni. Em vários momentos, Pimenta repetia que “poderia estar no RS trabalhando”. Em uma tréplica, Pollon chegou a dizer que o ministro não estava no RS porque “quer calar a oposição”.
Atuação do governo federal no RS ficou em segundo plano
Foram poucas as perguntas diretamente relacionadas à atuação do governo federal nas enchentes. Como parte delas feita pelo deputado Zé Medeiros (PL-MT), que questionou a linha do tempo de atuação da União, quais os obstáculos de eventual demora na resposta e quais as estratégias para manter o público informado e não haver desinformação.
A isso, o ministro respondeu que a atuação do governo federal foi ‘extremamente rápida’. E que, ainda na madrugada do primeiro dia de chuvas, a primeira coisa que foi feita foi o acionamento da Defesa Civil nacional e das Forças Armadas. “Naquela madrugada mesmo nós mobilizamos o batalhão de engenharia do Exército, que fica em São Gabriel, a cerca de 600 km da região do Vale do Taquari, e no outro dia de manhã os botes salva-vidas com as equipes especializadas já estavam presentes”, exemplificou. “Dia primeiro (de maio) foi o primeiro dia da crise e, no dia 2, o presidente Lula já estava no RS com uma comitiva de ministros”.
Por parte da base, as manifestações eram voltadas para perguntas de atuação (prévia ou futura) do governo federal ou pedidos de respeito ao ministro. Em determinado momento, o deputado Helder Salomão (PT-ES) chegou a chamar a reunião de ‘show de horrores’. “Imaginei que aqui seriam apresentadas sugestões de coisas que ainda precisam ser feitas, mas não. É um show de horrores. Mostra o completo desrespeito e o completo desprezo ao povo gaúcho. Tiramos dois ministros (que estavam no Rio Grande do Sul) para vir aqui e, ao invés dos parlamentares se preocuparem com o que está sendo feito, estão aqui fazendo acusações para gravarem os seus vídeos e colocarem na rede social”, exaltou.
Já no final da sessão, Pimenta também aproveitou para tecer críticas às gestões anteriores, Jair Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB). “Quando foi extinto o Ministério das Cidades, durante sete anos o orçamento da União não previu recursos para prevenção de enchentes e proteção de encostas, e os projetos e programas que existiam adormeceram em gavetas e nunca mais foram de lá retirados. Projetos que, se tivessem saído do papel, certamente teriam minimizado os efeitos do que foi essa tragédia”, ressaltou.
Como anunciado pelo ministro, às 18h, após manifestações do ‘bloco de oposição’, Pimenta se retirou. Enquanto saía, foi acompanhado pelo coro de ‘fujão’ dos deputados. Após, a sessão continuou no mesmo tom, alternando entre críticas da oposição ao governo federal e defesas da base. O tema da tragédia do Rio Grande do Sul voltou a ser citado, mas não foi prioridade.
Correio do Povo