Ao contrário do que afirmou na cúpula do Brics, presidente alega que governo tem, na realidade, “nomes de empresas” que comprariam produtos brasileiros de forma ilegal
Após dizer que revelaria nomes de países que atuam como “receptadores” de madeira ilegal que sai do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro recuou de suas declarações dadas na quarta-feira. Em vez de países, ele disse que o governo tem, na realidade, “nomes de empresas” que comprariam produtos brasileiros de forma ilegal. Nem mesmo esses nomes, porém, foram citados. Na quarta, a aliança de representantes de bancos, do agronegócio, da indústria e ONGs afirmou que o controle falho do governo é responsável pelo comércio irregular.
“Temos aqui os nomes das empresas que importam isso e os países que elas pertencem. A gente não vai acusar o país A, B ou C de estar cometendo um crime. Mas empresas desses países, sim. Isso já está em processo. Isso vai se avolumar, no meu entender, ao ponto tal que se tornará não atrativa a importação de madeira ilegal”, disse Bolsonaro, durante a sua Live.
“Quando conseguirmos chegar a bom termo essa questão, vai diminuir drasticamente o desmatamento no Brasil”, afirmou o presidente.
Segundo ele, além da atuação da PF contra o crime na floresta, a Marinha já foi contatada e apoiará ações. “Toda ela (madeira) sai por via aquaviária. Não sai por estrada, sai por rios. Dá pra gente fazer barreiras e conter o deslocamento dessa madeira. A que for legal, passa. A que não for, não passará mais”.
As declarações divergem daquelas que deu na terça, quando disse que revelaria “nos próximos dias” a lista dos países que compram madeira ilegal da Amazônia. Em discurso na cúpula do Brics, afirmou que o País sofre com “injustificáveis ataques” sobre a Amazônia e ressaltou que algumas nações que criticam o Brasil também importam madeira brasileira ilegalmente da floresta.
“Revelaremos nos próximos dias os nomes dos países que importam essa madeira ilegal nossa através da imensidão que é a região amazônica”, disse, em sua participação no encontro do grupo de países que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Daí, sim, estaremos mostrando que estes países, alguns deles que muitos nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão.”
Embaixador rebateu
No mesmo dia das declarações do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgou imagens de pequenos discos de madeira feitos pela PF em que apareciam nomes de países para onde madeira extraída ilegalmente havia sido enviada. O nome da Dinamarca surge entre outros, como Reino Unido, Holanda, Bélgica, França e Portugal. Bolsonaro também já citou a Dinamarca entre supostos compradores de material ilegal.
Ao Estadão, o embaixador da Dinamarca no Brasil, Nicolai Prytz, rebateu Bolsonaro: “não se culpa países por importação ilegal de madeira” e que isso, se de fato existir, estaria restrito a empresas. “Mas se existe, se tiver alguma alegação substancial sobre crime supostamente cometido, seria a ocasião de as autoridades brasileiras, pelos canais já estabelecidos, contatarem as autoridades da Dinamarca para ver esse assunto. É assim que funciona, e isso vale para qualquer matéria, não só sobre um crime com madeira, mas qualquer outro assunto.”
Na quarta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão também declarou que a relação de importadores de madeira ilegal da Amazônia é “uma questão de empresas”, e não de países.
Correio do Povo