Pelo menos 24 pessoas morreram após manifestações
Milhares de pessoas voltaram às ruas da Colômbia nesta quarta-feira (5) para protestar contra o governo do presidente Iván Duque, ao final de uma semana de manifestações que se tornaram violentas e deixaram 24 mortos, a maioria a tiros.
Sob o escrutínio da comunidade internacional, que denunciou os excessos da força pública, estudantes, sindicatos, indígenas e outros setores tomaram as ruas da capital Bogotá, assim como Medellín, no noroeste, e Cali, no sudoeste.
Em diferentes partes da capital, numerosos grupos se reuniram para seguir em direção à praça central de Bolívar, adjacente à sede presidencial.
Em Cali, foco dos distúrbios, milhares de indígenas aderiram aos protestos gritando “resistência”, enquanto uma manifestação massiva tomou as ruas de Medellín com música, teatro e discursos contra o governo.
As mobilizações foram em sua maioria pacíficas, mas em algumas cidades tornaram-se violentas. De acordo com dados oficiais contados até terça-feira, pelo menos 24 pessoas morreram (18 baleados), mais de 800 ficaram feridos e 89 estão desaparecidos. ONGs denunciam que a polícia atirou contra os manifestantes e que as mortes ultrapassam 30 pessoas.
As autoridades também registraram três policiais feridos por tiros.
O que começou em 28 de abril como uma manifestação pacífica em repúdio a uma reforma tributária já retirada se transformou em protestos graves contra o governo conservador que chegou ao poderem 2018.
A pressão nas ruas não cede, frente a vigilância da comunidade internacional que denuncia os ataques da polícia contra civis.
A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch pediram calma e exigiram garantias do governo em meio aos protestos.
Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, também houve 76 ataques contra jornalistas, dez deles feridos pelas forças de segurança.
A violência também estourou em Cali na segunda-feira, deixando cinco mortos e trinta feridos.
Segundo a promotoria, por trás dos excessos estão dissidentes das FARC que se desviaram do acordo de paz assinado em 2016; o ELN, a última guerrilha reconhecida na Colômbia, e as gangues de traficantes.
“A ameaça de vandalismo que enfrentamos consiste em uma organização criminosa que se esconde por trás de legítimas aspirações sociais para desestabilizar a sociedade, gerar terror entre os cidadãos e distrair as ações da força pública”, disse o presidente nesta quarta-feira.
Duque pede “diálogo”
Além das mobilizações e tumultos, houve bloqueios nas principais rodovias de Cali, causando desabastecimento de gasolina e preocupação com o deslocamento de caminhões que levam oxigênio e material médico em meio à pandemia.
Duque garantiu que vai abrir “espaços de diálogo” para ouvir os cidadãos. O governo planeja onze reuniões, que começariam nesta terça-feira, com tribunais, Congresso, órgãos de controle e Ministério Público, ainda sem incluir os líderes dos protestos.
O chamado Comitê de Desemprego, que reúne setores insatisfeitos, disse estar aberto à negociação direta sem intermediários.
O Ministério da Defesa enviou 47.500 soldados para áreas de todo o país. Só em Cali há 700 soldados, 500 homens das forças antimotins (Esmad), 1.800 policiais e dois helicópteros adicionais. Desde o fim de semana, os militares também patrulham a capital.
Com a popularidade despencando (33%), o presidente enfrenta protestos massivos desde 2019, assolado pelo descontentamento alimentado pela pandemia em um país que sofre mais de meio século de conflito armado.
Embora o presidente tenha retirado a iniciativa de reforma tributária e o Ministro da Fazenda renunciado, o mal-estar pós-conflito parecia se instalar em um dos países mais desiguais do continente, com desemprego de 16,8% e pobreza chegando a 42,5% da população.
Correio do Povo