Piloto indica que faria uma manobra para esperar uma melhor visibilidade para o pouso
Desastre aéreo ocorreu no início da tarde da quinta-feira passada | Foto: André Barcinski / Folhapress / CP
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou nesta terça-feira que análise preliminar dos áudios extraídos do gravador da cabine do avião que caiu no mar de Paraty (RJ) provocando a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki e mais quatro pessoas “não apontam qualquer anormalidade nos sistemas da aeronave”. A gravação reforçou a hipótese de que houve desorientação espacial do piloto Osmar Rodrigues em razão do mau tempo na região.
O desastre aéreo ocorreu no início da tarde da quinta-feira passada. O Cenipa informou que conseguiu extrair “com sucesso” todo o áudio do equipamento. O chip de memória do gravador de voz da cabine do bimotor ainda está sendo avaliado por uma equipe do laboratório de leitura e análise de dados de gravadores de voo (Labdata) do centro de investigação.
Segundo técnicos envolvidos nos trabalhos, em conversa com outro piloto que estava decolando da pista de Paraty, Rodrigues indica que faria uma manobra para esperar uma melhor visibilidade para o pouso, já que o aeroporto da cidade não tem instrumentos de auxilio à navegação.
Os dados apontam, no entanto, que o tempo entre a fala do piloto sobre a espera que faria por causa da chuva e a nova tentativa de pouso que levou ao choque com o mar é muito curto, mostrando que Rodrigues não esperou tempo suficiente para melhora do tempo.
Conforme o Jornal Nacional, da TV Globo, as gravações mostram que o piloto teria tentado pousar duas vezes na pista. As análises preliminares indicam que pouco antes da queda, o King Air C90 voava a uma altitude muito próxima do mar – com um teto de cerca de 60 metros. Essa situação pode ter contribuído para uma desorientação espacial do piloto.
Na primeira tentativa de pousar, Rodrigues teria citado a expressão “setor Eco”, o que significa uma curva para o leste. Numa segunda tentativa, Rodrigues teria comunicado que estava na “final”, um indicativo que se preparava para pousar. Os áudios captaram posteriormente um barulho forte, que os investigadores suspeitam ser da colisão da asa com a água.
Sons
De acordo com o chefe da Divisão de Operações, coronel Marcelo Moreno, o equipamento gravou os últimos 30 minutos de áudio do voo e isso inclui não só informações de voz, mas outros sons que serão importantes para a investigação. As gravações não registram sinais de pânico na aeronave.
No momento, os técnicos estão fazendo o tratamento do áudio. Depois dessa etapa, os dados serão analisados. “Nós analisamos sons diferentes, em que possamos identificar, hipoteticamente falando, o ruído de um trem de pouso sendo baixado, a aplicação de algum grau de flap ou outro equipamento aerodinâmico da aeronave”, disse o coronel. A gravação de áudio também pode indicar um início de descida, por exemplo.
A memória possui quatro canais de áudio, sendo um do piloto, um do copiloto, uma de área da cabine e o quarto do engenheiro de voo ou comissário. Os dados do chip foram baixados utilizando equipamentos e softwares do fabricante do gravador de voz.
O flexcable (cabo de conexão) que comunica os dados do chassi do gravador para a memória estava molhado. Portanto, houve a substituição por outro novo, minimizando a possibilidade de um curto circuito ou a perda de dados, caso tivesse sido utilizado o cabo contaminado pela água salgada.
O avião modelo PR-SOM saiu do Campo de Marte, em São Paulo, com destino a Paraty, no litoral fluminense, na tarde de quinta-feira. A aeronave transportava o relator da Lava Jato no STF Teori Zavascki, o empresário Carlos Alberto Filgueiras, dono do Hotel Emiliano, a massoterapeuta Maira Lidiane Panas Helatczuk e a mãe dela, Maria Ilda Panas, além do piloto Osmar Rodrigues, todos mortos no acidente.
O gravador da aeronave foi recuperado no resgate e chegou na manhã do último sábado, ao laboratório do Cenipa em Brasília. O equipamento foi encontrado pelos mergulhadores da Marinha na tarde de sexta-feira. Por estar submerso em água salgada, foi necessário realizar um procedimento de lavagem e conservação em água destilada para evitar corrosão e preservar os dados do gravador.
Correio do Povo