Vídeo mostra imagens da devastação no sul do país
Furacão arrasou o sul do Haiti | Foto: Nicolas Garcia / AFP / CP
A magnitude da devastação que deixou o furacão Matthew no Haiti ficou nítida neste sábado, três dias após a passagem do fenômeno que arrasou o sul do país e deixou centenas de mortos. Enquanto o Matthew ameaçava o litoral dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama pediu aos americanos que fizessem doações ao Haiti, onde milhões de pessoas precisam de assistência depois desse último desastre atingir o país mais pobre das Américas.
A passagem do furacão levou ao adiamento das demoradas eleições presidenciais e legislativas previstas para este domingo. Embora Porto Príncipe, capital e principal cidade haitiana, quase não tenha sofrido danos, o sul do país ficou devastado. Imagens aéreas da zona atingida pelo furacão mostram uma paisagem em ruínas, com moradias arrasadas e sem teto, árvores caídas e o solo coberto pelo lodo dos rios inundados.
Herve Fourcand, senador do departamento Sul, disse que vários povoados permanecem ilhadas por inundações e deslizamentos de terra. Jeremie, um município de 30.000 habitantes que ficou inacessível desde a sexta-feira, recebia os visitantes com cenas de desolação, sem energia elétrica pela destruição dos cabos e com as as comunicações interrompidas. Praticamente todas as casas de alumínio foram destruídas e apenas poucas construções de concreto ficaram de pé.
“É como se alguém tivesse um controle remoto e só apertasse o botão do vento para aumentar mais e mais”, disse Carmine Luc, uma mulher de 22 anos. “Quando o teto da minha casa voou, me segurei na parede com a mão esquerda e com a direita agarrei com todas as minhas forças o meu filho de três anos, que gritava”, contou. Um barco com nove contêineres de comida e medicamentos foi enviado a Dame Marie, no departamento de Grand’Anse, no oeste. “Provavelmente foi o departamento mais duramente atingiu e as condições não permitem o pouso de helicópteros”, disse à AFP o ministro do Interior, Francois Anick Joseph. “Fazemos o melhor que podemos para ajudar os afetados”, afirmou.
Comboios de ajuda foram enviados por terra, ar e mar a outras zonas atingidas de Grand’Anse, incluindo helicópteros militares que transportaram 50 toneladas de água, comida e medicamentos.
Não ficou nada
Mais ao sul, Les Cayes, o terceiro povoado do Haiti, ficou muito danificado. Em Sous-Roches, um tranquilo bairro em frente à praia, se transformou em um caos de lodo e árvores destruídas. O nível do rio começou a baixar, mas a água ficou revolta pelas inundações do mar. “Pensei que iria morrer. Vi a cara da morte”, disse Yolette Cazenor, mulher de 36 anos, parada em frente a uma casa partida em duas por um coqueiro que caiu sobre ela.
Durante 10 horas, as fortes rajadas do Matthew e uma chuva forte arrasaram também os cultivos nos campos da comunidade, o que sugere meses ainda mais difíceis para o país. Mais de 80% dos cultivos se perderam em algumas áreas, de acordo com o escritório de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. Cerca de um milhão de pessoas precisam de ajuda urgente, disse a organização humanitária CARE France: “As pessoas não têm nada exceto a roupa que vestem”.
As promessas de ajuda se multiplicaram enquanto os Estados Unidos anunciaram o envio de um buque com 300 efetivos especializados em emergências médicas, assistência e reconstrução, além de três helicópteros, que se somarão a a mais 250 homens e nove outros helicópteros já prontos para serem deslocados para o Haiti. O grupo de ajuda humanitária International Relief Teams, com sede na Califórnia, disse ter doado 7 milhões de dólares em materiais médicos, junto com as organizações internacionais MAP International e Hope for Haiti.
A França, por sua vez, anunciou o envio de 32 toneladas de ajuda humanitária e equipe para purificação de água. A Venezuela, que sofre uma grave crise econômica e desabastecimento, enviou três cargas de ajuda e alimentos. Mais um desastre natural devasta o Haiti, que em janeiro de 2010 foi devastado por um terremoto que destruiu grande parte da capital e deixou mais de 250.000 mortos.
Correio do Povo