Aposentados reclamam de descontos indevidos do benefício do INSS após reajuste em janeiro
Órgão federal diz que prejudicados podem requerer exclusão
Esta sexta-feira é Dia do Aposentado, e pessoas que receberam reajuste da aposentadoria neste mês de janeiro se dizem preocupados com o desconto indevido de parte do salário-mínimo em favor de entidades associativas, algo que não pediram e relatam não saber como suspender.
O débito no benefício é relacionado a duas organizações, afirmam, sendo elas a Associação dos Aposentados e Pensionistas Brasileiros (AAPB), com sede no Rio de Janeiro, e a Associação Nacional de Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas (ANDDAP), sediada em São Paulo.“No primeiro mês do aumento do salário mínimo (em 2024), ao retirar o valor da aposentadoria no banco, notei que o valor depositado era menor do que deveria ser. Imediatamente, meu filho entrou no aplicativo do INSS e notou que uma parte havia sido retirado em nome de uma ‘associação de aposentados’ de outro estado.
Quaisquer R$ 50 fazem uma falta enorme para uma aposentada que recebia R$ 1.412. E o pior, eles retiram e depois o aposentado tem que correr para encontrar no aplicativo do INSS para bloquear essa gente. Como pode tirar esse dinheiro sem a minha autorização?”, lamentou Eva Rodrigues, 81 anos, moradora de Porto Alegre.
Uma psicóloga aposentada porto-alegrense, de 78 anos, que não quis se identificar, mas que teve descontados R$ 37,95 no contracheque para a ANDDAP, disse que irá recorrer à via judicial. “Minha revolta não é apenas pelo valor que me tiraram, mas pelo fato de o INSS sequer checar se autorizei o desconto para uma entidade que sequer sabia da existência”, relatou.
“Vou buscar meus direitos na Justiça, pois não é a primeira vez que isso acontece. Anteriormente, descontaram valor de um cartão de crédito consignado que nunca tive, e assim vai a falcatrua em cima dos aposentados e nada muda”.Tanto a AAPB quanto a ANDDAP acumulam reclamações em sites de avaliações de serviços, sendo que em um deles, a primeira entidade aparece como “não recomendada” pela falta de respostas, enquanto a segunda tem reputação “boa”. Os relatos publicados nestas páginas dão conta ainda de que o problema não é recente.
O que diz o INSS
Procurado, o INSS disse que o desconto deve ter autorização prévia do aposentado ou pensionista, e ainda que precisa ser formalizado por um termo de adesão, por meio de assinatura eletrônica avançada e biometria (para novos contratos), apresentação do documento de identificação oficial, válido e com foto, e número do CPF.
Também informou que beneficiários que não reconhecerem o desconto da mensalidade associativa podem requerer a exclusão por meio da opção “Excluir mensalidade associativa” pelo aplicativo ou site Meu INSS ou pela Central 135.
Correio do Povo
Também é possível registrar uma reclamação na Ouvidoria do INSS. No Portal do Consumidor, também é possível registrar reclamações ou denúncias. O INSS afirma que, caso o titular não tenha autorizado o débito, a entidade pode ser responsabilizada nos âmbitos administrativo, cível e penal, e que, em auditoria própria, o número de reclamações alcançou um milhão entre janeiro de 2023 e maio de 2024.
Os descontos para o pagamentos de mensalidades associativas são autorizados, desde que feitos com entidades com Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS. Atualmente, há 29 na lista do órgão, sendo que a AAPB está presente, mas não a ANDDAP. No ano passado, um projeto de lei do deputado Murilo Galdino (Republicanos-PB) estabelece a chancela para o INSS possa descontar mensalidades dos beneficiários, desde que verifique periodicamente estas autorizações.
Segundo ele, o objetivo é dificultar fraudes. “Em muitos casos, os associados têm que se valer de ações judiciais para comprovarem que seus benefícios foram injustamente descontados, em razão da falta de autorização”, disse Galdino. A proposta está em análise na Câmara dos Deputados. Contatadas pelos e-mails disponíveis em seus sites, a AAPB e a ANDDAP não responderam aos questionamentos até o fechamento desta reportagem.