Paralisação convocada pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) está prevista para 1º de fevereiro
A greve dos caminhoneiros no Brasil, convocada pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) para a próxima segunda-feira, 1º de fevereiro, divide a categoria no Rio Grande do Sul. A classe concorda nos motivos da mobilização, incluindo o aumento no preço dos combustíveis e uma série de reivindicações não atendidas após a paralisação de 2018. Mas há divergências sobre o momento para um ato dessa proporção.
Os organizadores preveem a participação, em 18 estados, de cerca de 2 milhões de caminhoneiros, entre trabalhadores autônomos e com carteira assinada. Na última terça, o movimento ganhou a adesão da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), que orientou 800 mil motoristas a integrarem o ato.
A falta de avanços na legislação para a criação de um piso mínimo de frete é fator preponderante para uma eventual nova greve. O porta-voz da CNTTL e presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí-RS, Carlos Alberto Litti Dahmer, disse que a agenda de reivindicações está parada desde a paralisação de três anos atrás.
Segundo Liti, a categoria não aguenta mais “tanta exploração e a insensibilidade do governo Bolsonaro e do Supremo Tribunal Federal (STF)” e lamenta o mais recente reajuste da Tabela do Piso Mínimo de Frete, realizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Tivemos um reajuste de 2,51% que é ínfimo. Só para se ter ideia o preço do pneu teve aumento nos últimos três meses de mais de 60%, seja nacional ou importado. Até hoje não tivemos o julgamento do Piso pelo STF. Não podemos suportar essa situação. Hoje temos um piso mínimo da fome. Para nós inconstitucional é a fome e a exploração. Vamos dar um basta nisso. Vamos cruzar os braços no dia 1º de fevereiro”, destacou Litti. O movimento, de acordo com ele, também vai ter a adesão de outra forte entidade do setor, a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB).
Por outro lado, a Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e Cargas (Conftac) definiu ser contrária a uma greve neste momento. Em nota, após reunião com diversas entidades, incluindo a Federação dos Caminhoneiros do Rio Grande do Sul (Fecam/RS), anunciou que, apesar de “a categoria sofrer com os altos preços do combustível, decorrentes de uma carga tributária abusiva e descabida, dos baixos preços dos fretes ofertados e descumprimento do Piso Mínimo de Fretes”, não reconhece a CNTRC como representante dos caminhoneiros autônomos, “pois não existe de fato nem de direito”.
Atual vice-presidente da Conftac, o presidente da Fecam-RS, André Costa, afirmou à reportagem do Correio do Povo que a entidade não recebeu documento oficial de nenhum sindicato que possa ter feito uma assembleia e tenha decidido por uma greve. “Esta é a maneira legal disso acontecer. Esse movimento está sendo divulgado por um autodenominado conselho nacional que sequer CNPJ ou endereço possui”, reiterou. Costa disse não acreditar em desunião na categoria. “O autônomo, aquele que é proprietário do caminhão e dirige, já está muito sacrificado e precisa trabalhar. Iniciamos a safra, e embora os custos estejam altos, queremos aproveitar para tentar colocar um pouco das contas em dia e sobreviver até que a situação do país melhore”, ponderou.
Já a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e sindicatos filiados deliberaram pelo apoio à paralisação. O Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro/RS) vai fazer uma atividade em Esteio, a partir das 16h de segunda-feira. “Não é um movimento combinado com os caminhoneiros, não temos um diálogo muito aproximado até porque são uma categoria muito dividida. Mas, assim como já fizemos em ações anteriores, vamos subsidiar uma parcela do custo do botijão de gás. Serão cerca de cem clientes”, adiantou o presidente do Sindipetro/RS, Fernando Maia.
Nessa quarta, Jair Bolsonaro apelou aos caminhoneiros para demoverem a ideia da greve, mas a CNTRC, que relata ter 40 mil afiliados em 22 estados, confirmou a paralisação, caso não sejam atendidas as reivindicações da categoria. O governo federal pretende anunciar, em breve, a redução do PIS/Cofins que incide sobre o óleo diesel, como um aceno ao setor. A ideia do Palácio do Planalto é anunciar a medida antes da eleição para as presidências da Câmara e do Senado, marcada para a mesma segunda-feira, dia 1º.