A Oração do Posteiro
Autoria: Aureliano de Figueiredo Pinto
De tarde… Boleio a perna
e maneio o redomão,
-no portão do cemintério.
(Tauras… santas… e gaudérios…
tudo em baixo deste chão!)
– Ë aqui… A cruz… Pé de flor…
Me ajoelho… E, a voz num temblor,
rezo uma pobre oração:
Mãe-velha! Aqui está o teu piá,
meio estropiado do mundo!
Com o meu recuerdo mais fundo
te juro por esta luz:
– Mãe-velha! pela saudade
da tua antiga bondade,
eu vim te ver na tua cruz.
Tua benção venho buscar
para os vereios da vida.
Trago espichada e estendida
minha esperança de pobre.
Com medo que ela arrebente,
venho te ver novamente
sobre este chão que te encobre.
Mãe-velha! Não fui maleva!
Eu nunca te contrariei.
E, se um dia, te magoei,
logo pedi o teu perdão!
Como quando tu vivias,
no meu jardim de alegrias
derrama o teu coração.
Escuta! Santa Mãe-velha:
-Pede a Deus junto a ti,
que a estes teus netos-guris
faça uns gaúchos de alma reta
na conduta sem desmancho.
E à neta… orgulho do rancho!
porque inté é linda a tua neta.)
Me ajuda a ver se deu jeito
que eles aprendam a ler,
para o mundo compreender,
sem gritos, ralhos, nem relhos.
Por mim ensino o que posso:
-Já les dei o Padre-Nosso
e um pouco de teus conselhos.
Que eles, sendo moços feitos,
se por outros pagos cruzem,
buenos e leais, não abusem
da força que os tauras têm.
Faz, que o destino confirme,
tua neta – a gauchita firme!
que nunca engane a ninguém.
E se um dia estale a guerra,
que encarem o sol de frente!
com essa bondade valente
que vem, mãe-velha, de ti.
E honrem a marca da herança
dos que empurraram com a lança
esta fronteira até aqui!
Que a mãe deles seja sempre
a boa e fiel companheira
a quem pobreza e canseira
é um galardão de Jesus.
Quando a encontrei (comparando…
fui como um cego sarando!
-bobo do encontro com a luz.
Que eu tenha força nos braços,
coragem no coração,
para agüentar o tirão,
e a minha gente conduzir.
E me dê sorte e bom vento
para eu ganhar seu sustento
e os trapos pra eles vestir.
Que a saúde não me deixe!
para eu criar a ninhada
sem andar esparramada
como filhos de avestruz.
E com patrões mais humanos
possa eu viver muitos anos
para enfeitar tua cruz!
Bueno… Mãe-velha… Vou indo…
E ao tranco… Tenho a alma inteira
presa na estrela boieira,
que me olha, no céu parada,
também tão longe e solita…
– Como se o olhar de velhita
me acompanhasse na estrada!