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segunda-feira 13 maio 2024
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A nevasca de 1965 – Claudio F Vogt

A Nevasca de 65


………Bom dia, Amigo Leitor! O objetivo deste trabalho é deixar aos Sarandienses uma lembrança do fenômeno que encantou a todos. Estou encontrando dificuldade. Faz muito tempo! Mais de 50 anos! Eu e as palavras temos limitações. Como descrever o Mecânico Domingos Zancanella trabalhando, no meio da neve, em caminhões com panes?

Como traduzir a alegria dos namorados Nilza e Jairo, próximos a um boneco de neve? Espero que as belas imagens falem por nós!

………Nestes últimos dias, estive me perguntando: como estava a noite de  19 Ago 1965? O locutor da Emissora Sarandiense (ZYU 36) deve ter informado as condições do  clima. Devia estar garoando, muito frio, temperatura em declínio… A Mãe (Jovilde) não gostava. Ela tinha que lavar roupa na água gelada!

………Eu era admirador da Rádio Sarandi. Ela  e eu tínhamos, apenas, 11 anos. Fui dormir no horário normal. Na manhã seguinte (sexta-feira), eu teria aula na 1ª série do Ginásio Sarandi. Ao clarear do dia, a Mãe me acordou: “Vem! Venha ver!” Levou-me até à cozinha. Apontou para janela. Flocos grandes de neve caiam lentamente. Fiquei eufórico. Inesquecível!

………Tomei café e subi para o terreno do casal Vitório e Angelina Piccini. Os filhos (Hélio, Carlos Luiz e Carmem Lúcia) já haviam feito um boneco de neve. Estavam fazendo “guerra de neve”. As minhas mãos ficaram geladas e doloridas. Senti frio. Voltei para me esquentar. A neve integrou os vizinhos, num clima  de alegria. Este fato aconteceu na frente de outras casas.

……..Fiquei um pouco sentado na caixa de lenha (móvel com tampa), ao lado do fogão, na cozinha. Após, acompanhei a situação dos telhados. Estes não haviam sido feitos para a neve deslizar. O telhado da nossa casa era alto. Seria perigoso alguém subir para tirar a neve.

………A casa do Arduino e Gema Giovanini era de madeira. Em volta, umas 10 pessoas avaliavam as condições. Havia o risco de o telhado cair, com o peso da neve. Foi um gesto bonito de união. Em dado momento, decidiram retirar a neve. Vários amigos colaboraram! Foi emocionante! Este gesto bonito de fraternidade aconteceu em dezenas de lares. O Sarandiense não estava só!

………Os fotógrafos foram verdadeiros herois. Percorreram a Cidade. Arriscaram-se sob frio intenso. Subiram nas partes mais altas. Eles sabiam que a missão era muito nobre! Quantas fotos bateram?

………As casas possuíam fogão à lenha. Preparava alimentos e esquentava a cozinha. Os chaminés trabalhavam sem parar. O Pai (Fridolino) vendia fogões (de vários números) e os canos. É provável que algumas famílias ficaram sem lenha  e, até, sem alimentos. Os vizinhos eram a salvação. A dificuldade une as pessoas!

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……..Os pobres não tinham luz. O Pai vendia querosene para os lampiões. No dia 21 Ago 65 (sábado), a neve começou a derreter e o frio aumentou. Sentimos muito frio! Os pobres foram os que mais sofreram. Eles são unidos!

………Na propriedade do Pai, as instalações não caíram. Na colônia, há relato de desabamento de instalações. A Família Gelain, do Pinhalzinho, durante os 4 dias de maior frio, ficou sem lenha para se esquentar. Numa situação dramática, tiveram que queimar rodas de carroça!

………Na Cidade, a neve atingiu quase meio metro de altura! Perguntei o motivo da nevasca. Responderam: “Foi um fenômeno!” Não fiquei satisfeito. Eu queria saber por que houve o fenômeno. Nem tudo foi beleza. Os animais não conseguiam pastar. As verduras dos canteiros ficaram perdidas. Galhos quebraram. Pássaros morreram. E as pessoas? A reação foi diferente. Algumas foram brincar, outras rezavam, outras choravam…

………Cada um dos 4.000 Sarandienses tinha uma história para contar. A Cidade demorou alguns dias para voltar à vida  normal. No Ginásio, as redações da neve foram escritas no dia 25 Ago 65. Na Loja do Pai (Fridolino), cada freguês contava um episódio. Alguém deve ter dado a culpa para o Governo!

………A neve ocorreu nas partes altas do Estado. Não foi parelha. Em Vacaria nevou mais do que Sarandi. Nevou, também, nas serras de Santa Catarina. Era coisa de cinema como a neve se depositava sobre os galhos das árvores, objetos diversos… No pátio da casa, ela fez um pneu de neve sobre um de borracha! O fotógrafo profissional Luiz Donazzolo, entregou-me, pela filha Ana, uma lembrança da neve: a Avenida 7 de Setembro! Que saudade! Obrigado!

………A beleza e a euforia já se foram. Ficou a saudade dos bonecos, das “guerras” de neve, dos Pais, da Rádio Sarandi e de uma Cidade que não existe mais. A neve integrou as famílias, pela alegria, pelas brincadeiras, pelas dificuldades, pelo medo e pelo frio intenso. E, depois, pela saudade, pelas lembranças e por algumas lágrimas.

P S – Colaboraram: Ana H Berlet de Almeida, Rogério Machado, Artur Fernando Biavatti, Henry A Weingartner e José Leal de Oliveira.

P S 2 – Anexo: fotografias.

por CFVOGT em 17.5.19




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