
A primeira vez que vi um circo foi em Sarandi, nos anos 60.
Não havia grandes anúncios nem luzes piscando.
Era só um terreno baldio perto de casa, onde, de repente, começaram a surgir cordas, lonas coloridas, estacas de madeira, uma movimentação misteriosa que logo nos intrigou.
Eu, minhas irmãs e a criançada da redondeza acompanhamos tudo de perto.
O circo era simples, a lona não chegava até o chão, o que permitia que os guaipecas da vizinhança invadissem o espaço de terra batida sob as arquibancadas.
E nós, fascinados, nem percebíamos a precariedade.
Hoje, revendo com os olhos do tempo, vejo que era de uma pobreza comovente: palhaços de maquiagem borrada, anões sérios, malabaristas dedicados, engolidores de fogo suando em bicas… e um leão magro e desanimado.
Mas ninguém se importava.
A magia estava ali, flutuando no ar como o cheiro de pipoca e serragem. Assistíamos de olhos arregalados, corações acelerados.
Anos depois, já em Porto Alegre, reencontrei o circo no famoso Orlando Orfei.
Mais sofisticado, com trapezistas que desafiavam a gravidade, cavalos brancos que dançavam, elefantes equilibristas, um domador de leões e, claro, o globo da morte. Luzes, brilho, emoção.
A plateia vibrava — e eu também.
Os protetores dos animais, ainda não tinham voz e a gente se divertia em ver os bichos treinados, sem grandes preocupações.
Era outro tempo. Ingênuo, talvez. Mas feliz.
Esses dias, fui ao Mirage Circus, anunciado como o maior da América do Sul.
É realmente grandioso: uma estrutura impecável, figurinos deslumbrantes, produção de espetáculo internacional.
O palhaço Potato anima os intervalos com graça, os acrobatas desafiam as leis da física, e o globo da morte ainda faz a plateia prender a respiração.
Mas, ao sair de lá, me dei conta de que algo tinha mudado.
Não era mais como antes.
Onde foi parar a magia, o frio na barriga, a expectativa inocente, as trapalhadas que nos faziam chorar de rir?
Ou, meus olhos envelheceram ou alguma coisa se perdeu no caminho.
Tudo muito lindo, tecnológico, perfeito.
Mas… e a emoção, onde foi parar?

2025